Queiroz pagou cabos eleitorais de Flávio Bolsonaro com caixa 2, revela UOL

09 novembro 2020 às 10h06

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Pagamentos constam da quebra de sigilo bancário de Queiroz, determinada pela Justiça do Rio de Janeiro em investigação sobre o suposto esquema de rachadinha envolvendo o filho do presidente

O policial militar aposentado Fabrício Queiroz usou dinheiro de caixa 2 para pagar ao menos quatro cabos eleitorais da campanha de Flávio Bolsonaro ao Senado, em 2018, revelou o UOL. Os pagamentos constam da quebra de sigilo bancário de Queiroz, determinada pela Justiça do Rio de Janeiro em investigação do esquema de rachadinha.
A reportagem aponta que foram 15 transferências bancárias da conta de Queiroz para essas pessoas, no total de R$ 12 mil, entre 3 de setembro e 8 de outubro de 2018, período de campanha eleitoral até o dia seguinte ao primeiro turno. Nenhum dos pagamentos foi declarado à Justiça Eleitoral, o que configura caixa 2, de acordo com a legislação eleitoral e especialistas.
Ainda no período eleitoral, Queiroz sacou R$ 63,8 mil em dinheiro — sendo 11 saques de R$ 5 mil cada e outros de menor valor. Não há evidências de como o valor foi utilizado. O dinheiro teria saído de uma conta bancária pessoal de Queiroz, a mesma na qual ele recebeu pagamentos de assessores do gabinete de Flávio Bolsonaro no caso da rachadinha
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) denunciou Flávio, Queiroz e outras 15 pessoas pela prática dos crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita, entre os anos de 2007 e 2018.
Procurado pelo UOL, o senador Flávio Bolsonaro afirmou que desconhece pagamentos feitos fora da determinação legal e diz que todas as despesas de sua campanha foram registradas na Justiça Eleitoral.
“Todos os pagamentos da campanha de 2018 foram registrados junto à Justiça Eleitoral e estão dentro das regras. O senador Flávio Bolsonaro desconhece qualquer tipo de pagamento que não tenha cumprido as determinações legais”, disse a assessoria, em nota. “Quaisquer insinuações de irregularidade na campanha são mentirosas, não passam de ilações mal-intencionadas.”
O advogado de Fabricio Queiroz, Paulo Emilio Catta Preta, disse que não conseguiria se posicionar pois seu cliente está incomunicável, cumprindo prisão domiciliar. “Somente poderei tratar desses temas na minha próxima visita pessoal”, afirmou.
Ainda que seja comprovado na Justiça, o esquema de caixa 2 na campanha de Flávio Bolsonaro não é mais passível de ações na Justiça Eleitoral — o prazo máximo é de 15 dias após a diplomação dos candidatos eleitos. No entanto, caberia uma ação penal por falsidade ideológica eleitoral, crime previsto no artigo 350 do Código Eleitoral.
A punição é de reclusão por até cinco anos e pagamento de multa. Após uma eventual condenação, o juiz responsável pode decretar a perda do cargo após o trânsito em julgado (quando não há mais possibilidade de recurso). Segundo especialistas, raramente essas ações chegam ao fim antes do fim do mandato. (Com informações do UOL)