Quando preservar exige coragem para mudar

04 abril 2025 às 18h06

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*Adib Elias
A demolição do Cavalhódromo de Pirenópolis revela mais do que a fragilidade estrutural de um dos espaços mais importantes e tradicionais da nossa cultura. Escancara também a fragilidade de discursos que, diante de qualquer ação do poder público, preferem o alarde ao diálogo, o palanque à razão. A politização do caso é, no mínimo, desonesta.
Transformar uma obra pública necessária em arma de disputa eleitoral é não apenas improdutivo, é injusto. Injusto com quem vive a tradição, com quem trabalha em torno dela, com quem entende que cultura também precisa de infraestrutura digna e segura. Ignorar os motivos técnicos que embasaram a decisão de redesignar o Cavalhódromo é fazer uso seletivo da realidade.
A verdade é que o antigo espaço não comportava a grandeza das Cavalhadas de Pirenópolis. A estrutura, comprometida, colocava em risco participantes e público. O novo projeto nasce justamente do reconhecimento da importância da festa e da necessidade de protegê-la — não só simbolicamente, mas de forma concreta, com investimento público responsável e compromisso com a segurança.
Diferente do que se tenta fazer crer, o processo de reconstrução está sendo conduzido com seriedade, dentro dos marcos legais, com compensações financeiras justas a todos os afetados. O Governo de Goiás assumiu, inclusive, o pagamento de lucros cessantes, aluguel e eventuais reparos em imóveis vizinhos, sempre com base em critérios técnicos e jurídicos. É o Estado assumindo a responsabilidade social, sem deixar ninguém para trás.
O novo Cavalhódromo não é um rompimento com a tradição. É um passo necessário para garanti-la no tempo. É fácil clamar por “preservação” quando se ignora os riscos, quando se recusa a enxergar que a história também precisa de bases sólidas para seguir sendo celebrada com dignidade.
A população de Pirenópolis, que conhece como ninguém o valor da festa que organiza há tempos, saberá reconhecer o que está sendo feito com verdade, não se deixará enganar por discursos inflamados que tentam confundir responsabilidade com descaso. Pirenópolis merece o melhor. Não apenas em termos de infraestrutura, mas também de honestidade no debate público.
É hora de superar narrativas oportunistas e reconhecer que a cidade terá um Cavalhódromo que está sendo erguido com seriedade, técnica e escuta. Que ele será um símbolo não apenas da festa que representa, mas também da capacidade de um povo que valoriza sua história e sabe caminhar em direção ao futuro — com fé, com orgulho e com os dois pés no chão.
Em breve, as Cavalhadas retornarão com toda sua beleza, desta vez em um espaço à altura de sua importância — mais seguro, mais estruturado, mais respeitoso com quem faz e com quem vive a cultura.
Preservar a tradição, às vezes, exige mudar. E mudar, nesse caso, é um ato de respeito.
*Adib Elias é secretário de Estado da Infraestrutura
