Profimed não é barreira, é garantia de qualidade, diz presidente do Simego
04 dezembro 2025 às 19h48

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A aprovação do Exame Nacional de Proficiência em Medicina, o Profimed, considerado a “OAB da Medicina”, provoca mudanças profundas na formação e na entrada de novos profissionais no mercado de saúde.
Para a presidente do Sindicato dos Médicos de Goiás (Simego), Franscine Leão, a categoria resistiu inicialmente à proposta, mas passou a apoiá-la diante da incapacidade do Estado de fiscalizar e fechar cursos de baixa qualidade.
Em entrevista ao Jornal Opção, Franscine afirmou que o exame surge como “uma necessidade para proteger a população” em um cenário de expansão acelerada de faculdades de medicina e fragilidade na supervisão do Ministério da Educação (MEC).
“Inicialmente, a categoria médica era desfavorável ao exame de proficiência”, disse. “Acreditávamos que era preciso qualificar as faculdades, e não desqualificar os formandos. Mas diante da impossibilidade de fechar universidades que não atendem ao mínimo necessário, percebemos que a saúde do Brasil não pode ficar à mercê de pessoas desqualificadas.”
Para a presidente do Simego, dois problemas caminham juntos: a abertura desenfreada de cursos e a insuficiência de fiscalização pública. “O crescimento acelerado das faculdades e a formação de médicos por professores que nem sequer são médicos são fatores graves”, afirmou.
“Como alguém vai se formar médico sem ser ensinado por médicos?” Ela acrescenta que a situação não é causada pela falta de esforço dos estudantes, mas por estruturas de ensino frágeis.
“Muitas vezes, os pais investem a vida inteira na formação desses jovens. O problema não está no acadêmico, mas na falta de compromisso das universidades e dos órgãos de gestão em garantir ensino de qualidade”, criticou.
Prova é vista como caminho para resguardar pacientes
Mesmo com críticas à estrutura do ensino superior, Franscine afirma que o Profimed não representa uma barreira indevida ao exercício da profissão. “Se o colega está devidamente habilitado, que venha para o mercado”, disse.
“Hoje não existe falta de médicos no Brasil. Temos profissionais desempregados. O que defendemos é qualidade. Quem está preparado não terá dificuldade de ser aprovado.”
Ela reforça que o exame se tornou, na visão das entidades médicas, a única alternativa para assegurar que o atendimento à população seja seguro. “Eu sempre me pergunto: quem vai cuidar de mim quando eu estiver idosa? E quem vai cuidar da minha filha de nove anos? A medicina não é brinquedo.”
Questionada sobre o Enamed, avaliação aplicada durante o curso de medicina, Franscine nega que se trate apenas de burocracia. “A gente vem buscando formas de mostrar que esses acadêmicos estão devidamente habilitados. Todas as entidades médicas trabalharam para que a prática da medicina fosse bem regulamentada.”
Sobre a meta de ampliar vagas de residência médica para 0,75 por egresso até 2035, ela considera que o avanço é insuficiente. “Eu penso que não resolve, mas já é um ganho. Hoje não temos vagas suficientes para formar os especialistas de que o mercado precisa”, avaliou.
Para Franscine, o Profimed não deve ser visto como um entrave ao acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou ao mercado privado. “Não cria barreiras. O que queremos é garantir que só entre no mercado quem realmente está pronto para cuidar da vida do outro. Isso é o mínimo que a população espera.”

OAB da Medicina busca garantir qualidade na formação e proteção à população, diz conselheiro do CFM
Para o conselheiro federal do Conselho Federal de Medicina (CFM) por Goiás, Waldemar Naves do Amaral, a medida atende a um antigo desejo da categoria e tem como principal objetivo proteger a população.
“Esse é um desejo antigo. O modelo de ordem profissional já existe desde a década de 40, como na OAB e até na Ordem dos Músicos. O graduando, após concluir o curso, precisa ser avaliado antes de atuar junto à população. Na Medicina, isso nunca existiu”, explica.
Segundo ele, o atual modelo, criado na década de 50, permite que o estudante, ao concluir a graduação, já entre automaticamente no mercado de trabalho, independentemente da qualidade da formação. “O médico termina o curso e já vai atender. Bem formado ou mal formado, ele vai para o mercado. E isso preocupa muito”, afirma.
Excesso de faculdades e formação precária
Waldemar alerta para o crescimento acelerado do número de cursos de Medicina no país, muitos deles sem estrutura adequada. “Hoje, formamos mais de 50 mil médicos por ano. O Brasil é o país que mais abre faculdades de Medicina no mundo. Grande parte delas não tem hospital universitário para o treinamento adequado. Isso faz com que chegue ao mercado um excesso de médicos sem a formação necessária”, ressalta.
De acordo com o conselheiro, o Profimed surge como um mecanismo de proteção à sociedade. “O olhar do Conselho é ético. A nossa missão é garantir que a população seja bem atendida. Para isso, precisamos definir quem é o médico bem formado. Quem passar na prova, a população pode confiar. Quem não passar, precisa se preparar melhor”, destacou.
Profimed não substitui o Revalida
Waldemar também esclarece que o Profimed não substitui o Revalida, exame obrigatório para médicos formados no exterior. “O Revalida continua normalmente. Qualquer médico formado fora do Brasil precisa revalidar o diploma, como acontece em qualquer país do mundo. O Profimed será exigido de todo médico que queira atender a população brasileira”, explica.
Responsabilidade das faculdades
Questionado sobre a crítica de que o exame penalizaria os recém-formados, mas não as faculdades mal avaliadas, o conselheiro esclarece que o CFM não tem poder para autorizar ou fechar cursos. “Quem libera as faculdades é o MEC. Ele controla a entrada, mas não controla a saída. Depois que o aluno se forma, ele deixa de ser do MEC e passa a ser do Conselho”, afirma.

Segundo ele, o Profimed poderá, de forma indireta, pressionar as instituições. “Vamos saber quais faculdades aprovam 100% dos alunos, 80% ou só 5%. Isso gera dados objetivos para o MEC intervir. Hoje existem faculdades com nota 1, considerada péssima, e continuam funcionando normalmente”, critica.
“Nunca se fechou uma faculdade de Medicina no Brasil. Mesmo com avaliações ruins, nada acontece. Com esse exame, talvez isso mude”, completa.
Resistência das faculdades privadas
De acordo com Waldemar, as maiores resistências ao Profimed vêm das faculdades privadas. “Elas são totalmente contrárias. Do jeito que está, está bom para elas: ninguém controla, solta no mercado, e o movimento financeiro é gigantesco. O exame vai obrigar as faculdades a melhorar a qualidade do ensino”, afirma.
Benefício para a sociedade
Para o conselheiro, quem mais ganha com a medida é a população. “Quem ganha com isso é o povo. O dono de faculdade não ganha, pode até ser pressionado pelos maus resultados. Toda essa ação é para garantir que a população seja bem servida”.
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