Documentação está sendo analisada pelo Iphan desde 2020; celebração ocorreu nesta quarta e quinta-feira, após dois anos em hiato devido a pandemia da Covid-19

As Procissões da Semana Santa da cidade de Goiás estão em processo de registro como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com documentação encaminhada ao órgão desde 2020, atualmente, o pedido aguarda o posicionamento da Câmara Setorial do Patrimônio Imaterial, grupo veiculado ao Conselho Consultivo e responsável pela decisão sobre os processos de reconhecimento dos bens de natureza imaterial. Documento já teve análise técnica preliminar da superintendência em Goiás.

Dentre as manifestações que compõem a Semana, está a Procissão do Fogaréu. A celebração tradicional da cidade histórica, que ocorreu no final da noite desta quarta-feira, 13, e terminou na madrugada de quinta-feira, 14, é uma forma de reforçar o protagonismo cultural da cidade histórica. A Procissão retornou após hiato de dois nos devido à pandemia da Covid-19. A encenação se alimenta de valores e de memórias que permeiam a realidade cultural dos vilaboense, pois rementem às vivências das diversas procissões que ocorrem nas celebrações da Semana Santa em Goiás.

Neste ano, a projeção era que a festividade atraísse 20 mil pessoas à cidade. Em anos anteriores à pandemia, a Procissão do Fogaréu foi responsável por atrair cerca de 50 mil pessoas. Para o superintendente do Iphan-GO, Allyson Cabral, “o retorno desses eventos representa maior fluxo de pessoas na cidade, a valorização da cultura, o reencontro de detentores que fazem esses eventos acontecerem, além do fortalecimento do turismo no município”, avalia.

Além disso, para ajudar na realização das atividades da Semana Santa na antiga capital, o Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), repassou R$ 260 mil ao município, por meio do Programa Estadual de Incentivo à Cultura – Goyazes.

Histórico

A Procissão do Fogaréu, realizada há 277 anos, representa a perseguição e prisão de Jesus Cristo pelos soldados romanos e faz parte das celebrações da Semana Santa. A apresentação ocorre sempre à zero hora da quinta-feira santa, quando tambores anunciam a chegada de farricocos, os inimigos, vestidos com túnicas coloridas e chapéu simbolizando os soldados. O trajeto começa na frente da Igreja da Boa Morte, passando pelas Igrejas do Rosário e de São Francisco de Paula, tendo seu ritmo ditado pela fanfarra que, com diferentes tipos de toques, impõe a marcha dos farricocos.

Apesar de ser um evento católico, as atividades da Semana Santa envolvem a população em torno da crença e das tradições religiosas do calendário. O Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) elenca a Semana como uma das referências culturais mais significativas do município. “São eventos voltados ao catolicismo, mas com expressões religiosas, culturais africanas e indígenas, num processo de hibridismo religioso. São nesses valores católicos, afrodescendentes e indígenas, próprios das manifestações populares, que compõem a construção cultural da sociedade brasileira”, explica a historiadora do Iphan-GO, Renata Galvão.