A publicação do novo edital de credenciamento médico da Prefeitura de Goiânia, que reduz entre 15% e 35% os valores pagos pelos plantões, abriu um dos maiores conflitos recentes entre a gestão municipal e a categoria médica. A medida, que afeta diretamente os salários de todos os profissionais atualmente contratados, gerou indignação, forte mobilização sindical e risco de greve generalizada na rede de saúde.

O Sindicato dos Médicos de Goiás (SIMEGO) reagiu ao anúncio. Para a entidade, o corte atinge “o coração do atendimento público” e agrava um sistema já pressionado pela falta de insumos, estrutura limitada e unidades superlotadas.

O diretor de Assuntos Políticos do sindicato, Eduardo Santana, classificou a decisão como “um alerta máximo“. “Retroceder nas remunerações significa fragilizar ainda mais um sistema já pressionado. Não permitiremos retrocessos que coloquem vidas em risco.”

Ao Jornal Opção, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) informa que o novo credenciamento visa suprir déficits históricos das redes de atenção à saúde e possibilitará ampliar o acesso da população aos serviços, com ampliação no número de médicos de 730 para mais de 1.800. 

A adequação da tabela de valores pagos pelos plantões médicos visa corrigir distorções, garantir equilíbrio financeiro e foi definida de acordo com a realidade de mercado  na região metropolitana de Goiânia e estudo de impacto orçamentário e financeiro da pasta. 

Veja a tabela com os novos valores abaixo.

O edital obriga todos os médicos em atuação a assinarem um termo aditivo para continuar trabalhando, o que, na prática, reduz imediatamente a remuneração de toda a categoria — incluindo profissionais experientes, especialistas e equipes de atendimento crítico.

Justificativa da Saúde de Goiânia

A Secretaria Municipal de Saúde afirma que o edital ajusta os plantões “à realidade orçamentária da pasta” e nega que haja desvalorização.

Segundo a gestão, Goiânia pagava cerca de 30% acima dos valores praticados na Região Metropolitana e em outras capitais. A redução, de acordo com a SMS, geraria economia estimada de R$ 2 milhões mensais e permitiria ampliar o número de profissionais.

“O novo credenciamento não traz retrocessos, mas permite ampliar o quantitativo de profissionais e tornar mais eficiente a aplicação dos recursos públicos”, diz a pasta em nota.

Os aumentos que fizeram o valor chegar no que está hoje foram feitos pelo ex-prefeito Rogério Cruz no último ano de gestão para conseguir maior prestígio junto à categoria.

Estratégia e impacto imediato

Para representantes dos médicos, o momento escolhido pela gestão explica parte da rapidez na implementação dos cortes. Na próxima semana, diversas faculdades de medicina da capital realizam formaturas, o que significa a entrada de um grande número de recém-formados no mercado.

A mudança acende um alerta para possível substituição de profissionais experientes por recém-formados, o que preocupa unidades que já operam no limite, com alta demanda e escassez de especialistas.

SIMEGO: ‘Medida é grave”

Em nota oficial, o SIMEGO afirmou receber a decisão “com tristeza e profunda indignação” e declarou que a redução não prejudica apenas os profissionais, mas compromete o atendimento direto à população. “Toda vez que um médico é desvalorizado, quem sofre é o cidadão que depende do SUS. Sem médicos valorizados não há atendimento de qualidade.”

O sindicato reforça que está mobilizado e estuda medidas judiciais e administrativas para barrar o edital. A entidade não descarta paralisação geral, caso a Prefeitura avance sem diálogo.

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