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É a primeira experiência de Ana Carla Abrão em um governo. E vemos que a secretária já está ensinando os “antigões” como fazê-la — não necessariamente em relação a ideias, mas à forma de lidar com o poder

Para um Estado que já teve na pasta uma pessoa inacessível e basicamente hermética como Simão Cirineu, é um alento ver Ana Carla Abrão no cargo de secretária da Fazenda de Goiás.

Como jornalista, a primeira coisa de que preciso é acesso à informação e à fonte dela. Obviamente, secretários de governos são essenciais em várias pautas. Neste primeiro ano à frente da Sefaz, só precisei falar com Ana Carla uma vez, há duas semanas. Após o contato prévio com ela feito via WhatsApp(!) por um colega que já a tinha entrevistado outras vezes, fui muito bem atendido. Se tivesse aquele controle de qualidade e satisfação com o serviço prestado, eu daria nota máxima.

Agora a reencontro no Facebook debatendo intensamente a questão das organizações sociais (OSs) com outro internauta, a partir de uma notícia sobre a ocupação das escolas estaduais. Ambos defendendo posições opostas, ela do lado do governo, ele contestando o governo. Ambos contundentes, ambos com argumentos fortes, mas ambos também mantendo respeito à linha-marca da civilidade.

Ana Carla Abrão defendeu a privatização da Celg | Foto: Alexandre Parrode / Jornal Opção
Ana Carla Abrão: em atitude que deveria ser exemplo para seus colegas da esfera pública, entra em debate aberto com internauta no Facebook | Foto: Alexandre Parrode / Jornal Opção

Dou então uma bisbilhotada em seu perfil na rede e percebo uma mulher ativa e veemente na defesa de seus pontos de vista.

Particularmente, tenho uma opinião contrária à que externa a secretária Ana Carla Abrão na questão das OSs. Também creio que devamos discordar em muitas outras. Mas já passo a respeitá-la muito mais por “descer do Olimpo” do governo e discutir as ideias com o cidadão e a cidadã “comuns”.

É essa postura que esperamos de todos os ocupantes de cargos — no governo Marconi, no Paço Municipal, no Planalto, no Congresso, na Assembleia Legislativa e nas Câmaras, no Tribunal de Justiça, no Ministério Público etc.

Independentemente do ponto de vista que defenda (geralmente o da gestão que integra), é muito importante que tenhamos mais transparência dos gestores. Então, mais do que “interessante”, “admirável”, essa postura que Ana Carla assume tem de ser a norma.

Por mais Anas Carlas à frente da máquina pública, seja municipal, estadual ou federal, seja no Executivo, no Judiciário ou no Legislativo. A autoridade pode até fazer o contrário do que quer o cidadão, mas é obrigação dela e de sua assessoria, como servidores e servidoras que são, dar acessibilidade ao diálogo e resposta aos questionamentos.

Em tempo: é a primeira experiência de Ana Carla Abrão na administração pública. E vemos que ela já está ensinando os políticos “antigões” como fazê-la — não necessariamente em relação a suas ideias, mas à forma com que tem lidado com o poder.