Polícia descarta violência sexual e aponta problemas de saúde como causa da morte de norte-americana em Goiânia
28 novembro 2025 às 12h49

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A morte da norte-americana Nanci Ellen Wendel, de 71 anos, em Goiânia, foi resultado de uma combinação de problemas de saúde, vícios em opioides e álcool, e não envolveu qualquer crime de violência sexual ou física, conforme detalhou a Polícia Civil de Goiás (PCGO) em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira, 28.
A autoridade policial responsável pelo caso, a delegada Ana Elisa Gomes, titular da Delegacia Estadual de Atendimento Especializado à Mulher (DEAEM), apresentou um relatório investigativo que descartou a hipótese criminal inicial, mostrando o cenário de profunda debilidade física e emocional da vítima.
De acordo com a delegada Ana Elisa Gomes, a investigação, descrita como “extremamente criteriosa”, reuniu depoimentos da própria vítima ainda em vida, familiares, equipes de dois hotéis, profissionais de saúde e uma vasta análise de imagens de circuitos internos e câmeras públicas.

“Ela mesma disse que não houve violência sexual. Era uma mulher que vinha passando por uma série de problemas, problemas de saúde, saúde física, saúde emocional”, afirmou a delegada, durante a explanação. Consequentemente, o inquérito policial será encaminhado ao Poder Judiciário com uma sugestão de arquivamento devido à ausência de ilícito penal.
Histórico de saúde e vícios
A investigação revelou que Nanci, que havia viajado para Goiânia pela segunda vez para realizar um tratamento odontológico mais acessível, chegou ao Brasil já portando sérias condições de saúde. Primeiramente, a família confirmou à polícia que ela sofria de um prolapso retal, uma condição intestinal grave.
“Infelizmente, isso gerava para ela uma séria condição. Ela não tinha condições de impedir a própria evacuação. E isso acontecia em qualquer lugar, dentro do quarto onde ela estava”, explicou a delegada.
Paralelamente, a idosa lutava contra vícios confirmados pela família. Conforme a autoridade, “tinha vícios, conforme a própria família confirmou, através de conversas que a gente teve com pessoas da família. Vícios em opioides, em bebidas alcoólicas”.
Testemunhas relataram que Nanci consumia várias doses de uísque ao longo do dia e portava um frasco do opioide Vicodin, trazido dos Estados Unidos. O consumo era tão intenso que ambos os hotéis onde se hospedou precisaram suspender a venda de bebidas alcoólicas para o seu quarto.
Agravo do estado de saúde e suspeita Inicial
Em virtude do estado de saúde debilitado e do consumo de substâncias, a estadia de Nanci em Goiânia foi marcada por incidentes. Inicialmente, ela sofreu uma queda grave no banheiro do primeiro hotel, o que causou lesões pelo corpo.
“Em razão do consumo de bebida alcoólica, até dos opioides, ela perdia um pouco ali o eixo, o controle, o equilíbrio físico”, detalhou a delegada. Posteriormente, no segundo hotel, uma camareira a encontrou passando mal, queixando-se de fortes dores.
Diante disso, a gerente do estabelecimento acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que a levou para o Centro de Atenção Integrada à Saúde (CAIS) Vila Nova.
Foi neste local que surgiu a primeira suspeita de crime. Um médico, ao examiná-la e não ciente de todo seu histórico, observou as lesões na região retal e as feridas decorrentes da queda. Naquele momento, ele sugeriu a possibilidade de violência sexual.
Esta informação, subsequentemente, alimentou a repercussão inicial do caso. No entanto, a investigação aprofundada demonstrou que as lesões eram, na realidade, decorrentes do prolapso retal e do acidente no hotel.
Conclusão da investigação
Um dos pontos mais enfatizados pela delegacia foi o depoimento da própria Nanci Wendel. Apesar das dificuldades de comunicação, ela não falava português e foi auxiliada por tradutores, a vítima foi ouvida pela equipe em seu leito no hotel.
“Ela não foi vítima de violência, nem de violência física, nem de violência sexual”, reiterou a delegada, citando o relato da idosa. Além disso, a análise de todas as câmeras disponíveis não mostrou qualquer indício de assalto ou agressão, descartando também uma tentativa de roubo que a vítima teria mencionado brevemente, mas de forma não consistente com as evidências.
A delegada Ana Elisa Gomes expressou sensibilidade com o caso, descrevendo Nanci como uma “mulher vitimada por tragédias da vida”. “Desde o início a gente percebeu que era uma mulher muito solitária, e estava em Goiânia, num país, em um estado, onde ela não fala o idioma, sempre precisando de um apoio de pessoas desconhecidas”, comentou. Ela também ressaltou que a idosa “consumiu muita bebida alcoólica e comeu muito pouco”, acreditando que ela já havia chegado ao Brasil com “uma condição física muito debilitada”.
Trâmites finais
Nanci Ellen Wendel faleceu na última quarta-feira, 26, no CAIS Vila Nova, após sofrer três paradas cardiorrespiratórias. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, a morte ocorreu onze dias após seu primeiro atendimento, em 15 de novembro.
Informações repassadas pela perícia à imprensa indicam que a causa mortis foi uma complicação derivada de uma úlcera que perfurou, causando uma infecção generalizada (sepse).
A delegada Ana Elisa informou que mantém contato com a Embaixada dos Estados Unidos e com um irmão da vítima para os procedimentos de traslado do corpo. “O corpo dela está no IML, e a família, o irmão já entrou em contato dizendo que vem providenciar esse traslado do corpo para os Estados Unidos”, finalizou, encerrando um caso que, apesar da tragédia pessoal, não configurou criminalidade conforme as investigações da polícia goiana.
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