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Falta definir no inquérito se as 19 mortes na tragédia causada pelo rompimento da barragem da empresa serão interpretadas como culposas ou dolosas

O rompimento da barragem do Fundão causou o vazamento de 32,5 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro
O rompimento da barragem do Fundão causou o vazamento de 32,5 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro

O inquérito sobre o desastre causado pela barragem da Samarco que rompeu em Mariana (MG) terá diretores da empresa indiciados por homicídio. O delegado da Polícia Civil responsável pelo caso, Rodrigo Bustamante, ainda não definiu se a denúncia a ser apresentada à Justiça será por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar), dolo eventual (quando não há a intenção de matar, mas assume-se o risco) ou doloso (quando há a intenção de matar).

São 19 as mortes registradas na tragédia investigadas no caso do rompimento da represa de Fundão. A mineradora deve ser indiciada por crime ambiental, informou a Polícia Civil.

O vazamento de 32,5 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro é investigado pelo delegado. O responsável pelo caso quer saber se os diretores tinham conhecimento do risco de rompimento da barragem.

Na quinta-feira (4/2), um grupo de 17 policiais, incluindo o delegado, cumpriu mandado de busca e apreensão na sede da Samarco, em Belo Horizonte (MG), e na unidade de Mariana, onde foram apreendidos arquivos de computadores da empresa.

A investigação tem como foco os e-mails trocados entre os diretores da Samarco e canais internos de comunicação da empresa. O delegado informou que, em três meses, houve a necessidade de quebrar o sigilo de informática e telemática como medidas cautelares para continuar a investigar o caso.

Além da Polícia Civil, a Polícia Federal e o Ministério Público do Estado de Minas Gerais também investigam a tragédia. Os órgãos envolvidos no caso já sabem que o equipamento usado para medir o nível do volume dos rejeitos — piezômetro — funcionou pela última em 26 de outubro de 2015, dez dias antes do rompimento da barragem, que aconteceu no dia 5 de novembro.

Até 15 de fevereiro o inquérito deve ser concluído. O delegado informou que será pedida a prorrogação do prazo de investigação à Justiça pela terceira vez.

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Com cerca de 1,5 mil páginas, o inquérito contém depoimentos de mais de 80 pessoas. Ricardo Vescovi, ex-presidente da Samarco, é um dos que já foi ouvido pela Polícia Civil. Vescovi pediu licença do cargo.

A lama da barragem continua a ser espalhada no leito dos rios Gualacho do Norte, Carmo e Doce. O crime continuado também é um dos investigados pela Polícia Civil no caso.

Especialistas e autoridades policiais alertaram desde o ano passado para o escorrimento dos rejeitos que vazaram com o rompimento da barragem para outras áreas além da cidade de Mariana. A chuva e a corrente da água têm espalhado ainda mais o material que havia ficado na margem desses rios.