Polícia Civil ainda não identificou responsável por comentários racistas em aplicativo de entregas
28 outubro 2020 às 12h52

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Segundo delegada Sabrina Leles, condomínio e aplicativo já foram notificados para que forneçam as informações necessárias para identificação do responsável

A gerente de uma hamburgueria localizada no setor Goiânia II, na capital, relatou um episódio de racismo envolvendo um entregador por aplicativo na noite da última segunda-feira, 26. O assunto ganhou repercussão nas redes sociais e já se encontra sob investigação da Polícia Civil de Goiás (PCGO).
Na manhã desta quarta-feira, 28, a delegada Sabrina Leles falou sobre os primeiros passos adotados pelas autoridades no sentido de identificar e punir o autor dos ataques. “A Polícia Civil já notificou o condomínio e o aplicativo para que forneçam as informações necessárias para identificarmos o responsável pelas mensagens”, explicou.
“Queremos saber se essa pessoa é moradora, frequentadora ou se tem algum vínculo empregatício em alguma casa do condomínio. Tudo isso foi questionado, além, é claro, da existência daquele endereço no condomínio. Queremos saber se ele é real e, se for, quem são os moradores dessa residência”, disse a delegada em entrevista à imprensa.
Segundo Sabrina, a polícia não descarta a possibilidade de se tratar de um perfil falso, no entanto, só será possível afirmar após o recebimento das informações por parte dos oficiados. “Precisamos da resposta formal do ofício que enviamos, o que até o presente momento não aconteceu”.
“Toda investigação que envolve dados cibernéticos é mais complexa. Exisem ténccas para dificultar o trabalho das autoridades, mas no dia a dia temos demonstrado que é possivel sim identifcar os autores dos crimes proferidos pela internet”, pontuou a delegada.
Relembre o caso
O desabafo de Carol, gerente da hamburgueria, já foi compartilhado por milhares de usuários no Twitter. Logo após o episódio ela escreveu em seu perfil: “Ontem, no final da noite, tivemos um pedido no Aldeia do Vale e quando o entregador estava chegando lá, pedi para que ela liberasse a portaria para que ele pudesse entrar. Tive essas palavras como resposta”, conta ao compartilhar prints em que a cliente diz que não vai autorizar a entrada do entregador por conta de sua cor.
“No começo, durante uns 15s, pensei que era mentira ou algum tipo de teste com o restaurante, uma vez que me recusei a acreditar que eu realmente havia lido isso. Me veio na cabeça mil xingamentos, mas como representante do estabelecimento, tive que responder com educação”, diz a mulher.
Como o entregador não teve nenhum tipo de contato com a mulher que fez o pedido, a gerente acredita que ela tenha ligado na portaria para perguntar se ele havia chegado e aí ficou sabendo sobre a cor do entregador. Ainda de acordo com Carol, não foi divulgada nenhuma informação sobre a pessoa para evitar um possível processo por difamação. No entanto, o crime de ódio será denunciado pelo estabelecimento.
“Gravei tudo e está tudo no meu acervo pessoal. Espero que essa criminosa não saia impune, isso é crime! Nunca tinha passado por isso antes. No momento, eu estava em ligação com o entregador, porque precisava passar as informações da quadra e do lote para que ele pudesse localizar e ele, percebendo que eu tinha me calado, ele perguntou o que havia acontecido. Eu, ali, parada e atônita, tive que contar pelo telefone que um crime de ódio tinha sido cometido contra ele, devido à cor de sua pele”, detalha a gerente.
Ainda de acordo com o relato, o entregador chegou à Hamburgueria sem reação, tendo que fazer mais duas entregas. “Fui embora para casa chorando, conversando com o entregador para que ele relatasse ao meu irmão o que havia acontecido, uma vez que ele representa a loja, então eu vou na polícia como testemunha”, adianta Carol.
“O entregador já está sabendo do movimento nas mídias sociais e ele estará presente em todas as entrevistas. Ele está muito grato por todos que estão ajudando a divulgar e que não compactuam com esse crime”, conclui a gerente ao compartilhar o desabafo do trabalhador.