*Colaboração João Paulo Alexandre

A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta terça-feira, 11, a Operação Isfet 2 em Goiânia, Goianira, Trindade e Campo Grande (MS) para desarticular um grupo acusado de se passar por policiais federais e tentar extorquir R$ 15 milhões de pessoas com antecedentes criminais.

A ação cumpriu seis mandados de prisão temporária, dois suspeitos continuam foragidos, e onze de busca e apreensão. De acordo com o delegado da PF, Murilo de Oliveira Freitas, o grupo realizava uma seleção prévia dos alvos com base em sua capacidade econômica e histórico criminal, explorando brechas emocionais e jurídicas. Segundo o investigador, a organização criminosa se apresentava como responsável por conduzir investigações contra essas pessoas e, portanto, teria suposto poder para interrompê-las.

Para não levantar suspeitas sobre a falsidade, os encontros eram realizados nas imediações da Superintendência da PF em Goiás, o que dava aparência de legitimidade às abordagens.

Falso crachá, armas e intimidação constante

Ainda conforme o delegado, os criminosos portavam distintivos falsos, armas de fogo e crachás, garantindo credibilidade visual diante dos extorquidos. Ele explicou que “essas reuniões, ocorridas não no prédio, mas nas proximidades, logo à frente, buscavam ter vantagens econômicas diante dessas pessoas.”

Veja vídeo:

As vítimas acompanhadas pelo grupo eram vigiadas diariamente. Segundo a PF, eles monitoravam rotinas, relações familiares, endereços e, quando necessário, viajavam até outras cidades para reforçar as ameaças. Em Campo Grande (MS), por exemplo, integrantes da quadrilha filmaram parentes de um dos alvos como forma de pressão psicológica.

Extorsão de R$ 15 milhões

Um dos casos identificados pela PF envolve a exigência de R$ 15 milhões para garantir que falsas investigações não avançassem. Para aumentar a coerção, os criminosos chegaram a simular o plantio de drogas na casa de um dos extorquidos, criando novos elementos de pressão e ameaça.

Apesar disso, nenhum pagamento foi realizado. Contudo, segundo a PF, o crime já se configurou pela violência moral, intimidação e oferecimento de suposta imunidade policial, além da promessa de evitar novas investigações fictícias.

Denúncia de advogado detonou investigações

Curiosamente, a investigação não foi iniciada por denúncia das vítimas, que também possuíam histórico criminal e, portanto, hesitavam em procurar as autoridades, mas graças a um advogado. Ele levou o caso à PF em Balneário Camboriú (SC), apontando a possibilidade de policiais federais estarem envolvidos.

A partir disso, os investigadores iniciaram diligências para verificar a veracidade das informações. Somente depois de um monitoramento detalhado conseguiram confirmar a existência de falsos agentes e identificar os responsáveis.

Embora a base operacional estivesse em Goiás, o delegado explicou que a quadrilha atuava em outros estados e tinha mentores e intermediários fora do território goiano.

A estrutura era dividida em funções diversas:
• seleção das vítimas
• vigilância
• aproximação e ameaça
• intermediação das exigências
• execução das simulações e encontros presenciais

O delegado detalhou que o grupo era formado por pessoas já envolvidas em crimes semelhantes. Ele afirmou que “o perfil desses criminosos passa por pessoas que possuem, por essência, uma conduta violenta, uma conduta intimidatória, pessoas que possuem e ostentam armas de fogo, seja em imagens transmitidas por aplicativos e redes sociais, mas que, de uma forma geral, são pessoas que já tiveram problemas inclusive similares a esse.”

A PF admite, inclusive, que pode haver mais casos não registrados, já que muitos criminosos preferem evitar contato com autoridades.

Segundo o delegado, a operação deflagrada nesta terça-feira representa a segunda fase de uma ação iniciada após a prisão de um dos investigados em flagrante. O objetivo agora é desarticular toda a cadeia criminosa.

Ele pontuou que “na data de hoje, a resposta veio. Todas as pessoas identificadas serão levadas à justiça para responderem na medida da sua participação em todas essas condutas.”

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