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A presença da bactéria Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) no Rio Meia Ponte, um dos principais mananciais que abastecem Goiânia, foi confirmada em pesquisa da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Ao Jornal Opção, a pesquisadora Elisa Flávia Baião detalhou os riscos e o complexo ciclo de contaminação dessas bactérias resistentes.

Segundo Elisa, a MRSA identificada em oito pontos de coleta do rio, da nascente à foz, pode chegar à população de forma indireta. “Alimentos irrigados com essa água ou animais que a consomem podem carregar a bactéria. O tratador do animal pode se contaminar e levar a bactéria para dentro de casa. Animais, peixes e até aves podem contribuir para a disseminação. Quando esses indivíduos buscam atendimento hospitalar, a bactéria pode retornar à comunidade, formando um ciclo complexo de transmissão”.

Segundo ela, a maior concentração da MRSA foi encontrada em trechos urbanos do rio, em Goiânia, devido à presença de antibióticos residuais. “Mesmo em baixas concentrações, os antibióticos no rio selecionam bactérias resistentes. Uma bactéria que não era resistente pode adquirir resistência de outra, formando um sistema de troca genética que perpetua a resistência antimicrobiana”.

Elisa afirma que o estudo não analisou a água de torneira, portanto não há comprovação de contaminação direta da água distribuída à população. No entanto, alertou para a necessidade de conscientização sobre descarte correto de medicamentos.

“As moléculas de antibióticos não são totalmente removidas pelo tratamento de esgoto. Quando despejadas no rio, selecionam bactérias resistentes. É um problema de responsabilidade individual e coletiva, que impacta a saúde pública global”, disse.

Sobre medidas futuras, a pesquisadora afirmou que o estudo servirá como base para monitoramento contínuo da MRSA, identificação de possíveis origens e estratégias para reduzir riscos ambientais e à saúde humana.

“É importante entender a complexidade do ciclo de contaminação, que envolve água, alimentos, animais e hospitais. Precisamos reduzir o descarte incorreto de antibióticos e seguir com monitoramento constante”, completou Elisa.

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