Pecuarista amigo de Lula diz que empréstimo em banco foi para o PT
15 dezembro 2015 às 17h48

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Goiano Delúbio Soares, condenado no mensalão, teria participado de operação irregular de R$ 12 milhões para campanhas petistas

O pecuarista José Carlos Bumlai confessou nessa segunda-feira (14/12) que os R$ 12 milhões tomados como empréstimo do banco Schahin em 2004 foram destinados ao PT. A admissão foi em depoimento à Polícia Federal (PF) e Bumlai envolveu dois ex-tesoureiros do partido na transação — o goiano Delúbio Soares, condenado no Mensalão, e João Vaccari Neto, preso e processado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso Petrobrás.
Bumlai é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, segundo a investigação da Lava Jato, tinha livre acesso ao gabinete presidencial, com aviso na portaria franqueando sua entrada a qualquer tempo. O pecuarista foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por corrupção, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta. Ele está preso preventivamente desde 24 de novembro.
Segundo reportagem nesta terça-feira do PRO, serviço de informação em tempo real do jornal “Valor Econômico”, o depoimento de Bumlai durou mais de seis horas, e ele disse à PF que o negócio foi sugerido pelo presidente do banco, Sandro Tordin. Ele afirmou que foi Tordin quem falou em tomar o empréstimo para “passar” o dinheiro ao PT por intermédio dos Bertin. Quebras de sigilos fiscal e bancário de Bumlai, de seu filho e nora revelaram que os R$ 12 milhões foram repassados para contas do Grupo Bertin, que foi sócio de Bumlai.
O pecuarista disse à PF que ficou de pensar na proposta de Tordin, mas que no dia seguinte foram à sua casa em Campo Grande (MS) o então tesoureiro petista Delúbio Soares e outras pessoas do partido. O pecuarista disse que Tordin participou do encontro. Indagado sobre a razão de ter realizado o empréstimo, Bumlai justificou: “Não iria custar nada a mim. Eu quis fazer uma gentileza, um favor, uma gentileza para quem estava no poder”.
Ele mencionou o escândalo do mensalão: “Não tinha havido mensalão ainda, o partido estava com grande popularidade”. Bumlai disse que foi “um gesto de simpatia, que se transformou em uma grande bobagem”.
O amigo de Lula relatou que metade do valor foi destinado ao PT de Santo André (SP). Segundo versão do operador do mensalão Marcos Valério de Souza, os recursos foram para o empresário Ronan Maria Pinto, que teria usado o dinheiro para comprar o jornal “Diário do Grande ABC”, que estava publicando notícias que relacionavam Maria Pinto a um suposto esquema de corrupção no município, durante a gestão do prefeito Celso Daniel, sequestrado e executado a tiros em janeiro de 2002.
Segundo Valério, Maria Pinto teria recebido os valores porque ameaçara dirigentes nacionais do PT de revelar o suposto esquema de corrupção em Santo André. O pecuarista disse que os outros R$ 6 milhões foram enviados ao PT de Campinas (SP) para quitar dívidas de campanha. Segundo ele, marqueteiros que atuavam em campanha eleitoral naquela cidade precisavam do dinheiro.
Em outubro de 2004, quando ocorreram as negociações para o empréstimo, o PT estava em disputa no segundo turno em várias cidades de São Paulo. Bumlai disse ainda que não atuou para que a Schahin Óleo e Gás conquistasse contrato de R$ 1,6 bilhão para operação do naviosonda Vitória 10000. Segundo a LavaJato, a Schahin conquistou o contrato sem licitação.
O pecuarista afirmou ter concordado em fazer o empréstimo porque buscava manter bom relacionamento com o PT e ficaria constrangido se não atendesse a um pedido do presidente do banco Schahin.
O Valor registra que no depoimento à PF Bumlai contou ter mantido encontros posteriores com Vaccari para cobrar a dívida. Na confissão, o pecuarista disse que Natalino Bertin repassou o dinheiro para o PT, mas negou que o empresário tivesse conhecimento de que se tratava de uma operação para beneficiar o partido.
Bumlai disse também acreditar que o PT tenha feito outros empréstimos com o banco Schahin para abastecer o caixa dois da legenda, por meio de “laranjas”. O advogado de Bumlai, Arnaldo Malheiros Filho, disse que a confissão deixou o pecuarista “aliviado”. “Foi bom para ele, foi um alívio”, disse ao Valor PRO. Malheiros Filho classificou o depoimento como “muito bom”. “Eu acho que foi muito bom. Ele [o depoimento] põe os Schahin no lugar que eles verdadeiramente ocupam nesta história”.
Ao ser perguntado se Bumlai se considera “usado” pelos Schahin, Malheiros Filho disse que não iria responder a essa questão. O criminalista negou que Bumlai esteja ponderando sobre fazer delação premiada: “Quem quer fazer delação não entrega o jogo, não é? Senão não tem como negociar. Ele quer é contar a verdade”. Malheiros diz que Bumlai mantém uma rotina diária de orações e de leitura quase contínua da bíblia dentro do cárcere.