Para Drauzio Varella, cigarro é o “crime” mais perverso da história do capitalismo

02 novembro 2023 às 17h49

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Atualmente mais de um bilhão de pessoas são fumantes no mundo e na década de 2030 estima-se que esse total poderá chegar a dois bilhões. A maioria destes fumantes estará nos países em desenvolvimento. O impacto sobre a saúde decorrente do uso do tabaco é bem conhecido: responsável por 90% dos tumores pulmonares, 75% das bronquites crônicas, 25% das doenças isquêmicas do coração.
Para o médico e oncologista Drauzio Varella, o cigarro é o “crime” mais perverso da história do capitalismo. Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, ele explicou que fumar encurta a duração da vida, dez anos em média se for mulher e 12 anos se for homem. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), neste século 21 o cigarro provocará cerca de 800 milhões de óbitos.
A comprovação científica da ligação entre o tabagismo e o câncer remonta aos anos 1950. No entanto, devido à intensa pressão exercida pelas empresas do setor, essa informação foi mantida longe dos veículos de comunicação por mais de três décadas. A indústria do tabaco faturou bilhões de dólares durante boa parte do século XX ao promover uma imagem positiva do cigarro. Para isso, contou com a parceria dos meios de comunicação de massa. Somente nos anos 1990 que o cenário começou a mudar.
Segundo Drauzio, as propagandas buscavam associar o ato de fumar ao cenário esportivo, ao sucesso profissional e à estética das mulheres no encanto dos homens. Por meio dessa estratégia, que envolveu suborno, além de um poderoso lobby político, a indústria do tabagismo conseguiu corromper autoridades e silenciar a mídia. Qualquer menção a questões de saúde relacionadas ao tabagismo em notícias, reportagens ou comentários era passível de retaliações financeiras.

No século XX, a mensagem das propagandas de cigarro sempre foi muito clara: associava o produto a um estilo de vida glamoroso e moderno. Fumar era o mesmo que se afastar conservadorismo; era ter estilo próprio, símbolo de juventude e independência. O discurso visava conquistar principalmente o público mais jovem. Nos filmes de Hollywood, quase todos os protagonistas e bandidos tinham a sua própria maneira de fumar. Eles, inclusive, se distinguiam por isso. Humphrey Bogart, Paul Henreid, Bete Davis. As maiores estrelas de cada época apareciam em seus filmes fumando.
Drauzio explicou que quando o mundo se deu conta das inúmeras doenças ligadas ao fumo e dos custos para os sistemas de saúde, diversos países iniciaram campanhas educativas e criaram leis para proibir a publicidade pelos meios de comunicação de massa.
Apesar do incontestável sucesso da política de controle do tabagismo no país, as ações de prevenção devem considerar que as parcelas da população com piores condições socioeconômicas e com baixo nível educacional são as que apresentam taxas mais altas de prevalência de tabagismo. Dentro destes segmentos populacionais os adolescentes representam uma prioridade. Os dados são de um estudo publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia, de nome “Tabagismo e câncer no Brasil: evidências e perspectivas”.
Prejuízos do cigarro eletrônico
Atenta às transformações sociais que levaram à diminuição do número de fumantes e às perdas provocadas pelas mortes precoces dos consumidores, a indústria criou o cigarro eletrônico.
Amplamente popular entre os mais jovens, os cigarros eletrônicos acarretam um perigo significativo para a saúde. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Center for Tobacco Research, pertencente ao Comprehensive Cancer Center da Ohio State University, e pela Southern California Keck School of Medicine, ambas instituições dos Estados Unidos, o consumo de cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes, por apenas 30 dias pode resultar em sérios problemas.
Durante o estudo, verificou-se que os indivíduos que utilizaram cigarros eletrônicos nos últimos 30 dias apresentaram um risco 81% maior de manifestar sintomas de chiado. Além disso, esse grupo evidenciou um aumento de 78% no risco de sentir falta de ar e um aumento de 50% no risco de apresentar sintomas de bronquite.
Cigarro causa Câncer
O tabagismo é, isoladamente, a principal causa de câncer no mundo. Desde o clássico estudo de Doll e Hill, que identificou a estreita associação entre consumo de cigarros e câncer de pulmão, novas evidências foram acumuladas para outros tumores malignos. De acordo com a última revisão conduzida pela Agência Internacional de Pesquisas em Câncer (International Agency for Research on Cancer – IARC), Parte E do Volume 100 das Monografias da IARC (não publicada), sobem a 20 os tumores malignos associados com o tabagismo, incluindo o câncer de ovário e o de cólon. Nesta última revisão da IARC foram consideradas evidências apenas limitadas da relação do tabagismo com o câncer de mama.