Para cientista político, eleições no Congresso sacramentaram chegada do “baixo clero” ao Poder
02 fevereiro 2021 às 09h56

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Na interpretação de Guilherme Carvalho, presidente Jair Bolsonaro tem, agora, a oportunidade de formar uma base sólida composta por deputados que “não tinham grande expressão e acesso a recursos”. “Isso dá certa tranquilidade para tramitação de suas propostas e até diante das dezenas de pedidos de impeachment”, avalia.

O Legislativo escolheu na noite da última segunda-feira, 1, os novos presidentes para Câmara e do Senado. De um lado está Arthur Lira (Progressistas-AL), eleito presidente da Casa dos Deputados, do outro, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) que comandará, agora, o Senado.
Ao Jornal Opção, o cientista político Guilherme Carvalho considerou que os resultados da eleição simbolizam a chegada do “baixo clero” ao poder. “Ficou claro o sentimento de revanchismo e revolta generalizada, principalmente dos deputados, com a estrutura institucional de funcionamento da Câmara”, disse ao comentar a votação da última noite.

Na interpretação do cientista, o regimento interno privilegia os “grandes”, ou seja, líderes de blocos partidários, relatores de comissões, membros da mesa diretora, o que, ao todo, deve representar, segundo ele, cerca de 100 deputados. “Os benefícios vem através de emendas orçamentárias, que nada mais é do que a maior moeda eleitoral que eles têm nas mãos”.
Essa divisão entre alto e baixo clero não faz tanta diferença no Senado pois, segundo ele, o ambiente é mais propício para o protagonismo dos parlamentares e acesso a recursos haja vista a quantidade reduzida de representantes. “Diferentemente da Câmara onde a esmagadora maioria dos deputados não possuem acesso a recursos, nem fazem parte da tomada de decisão das bancadas”.
Mais tranquilo
“Agora sim o presidente [Jair Bolsonaro] encontrou seu bloco dentro do Congresso. Agora ele tem tudo para construir uma base sólida. Uma base formada por deputados que não tinham grande expressão e acesso a recursos, mas que agora chegam ao Poder. Isso dá certa tranquilidade para tramitação de suas propostas e até diante das dezenas de pedidos de impeachment que já foram protocolados. Agora são os seus iguais que comandam a Casa”, avaliou.
Tudo bem no churrasco
Para o cientista, os parlamentares são, sobretudo, estrategistas e fazem cálculos antes de qualquer tomada de decisão. “É uma estratégia de sobrevivência eleitoral. O centrão move-se pensando na próxima eleição. Não há um vinculo ideológico [com o presidente Jair Bolsonaro] como havia com os partidos de esquerda e sim um vinculo pragmático, ou seja, ‘nos damos muito bem no churrasco, mas depois vamos aos negócios’. É uma aliança de conveniência entre iguais”, pontuou.