Outubro Rosa: médico explica importância do diagnóstico precoce e conscientização integral da saúde feminina

08 outubro 2025 às 07h00

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O Outubro Rosa começou em Goiás com um foco na saúde da mulher e na prevenção do câncer de mama. O governo estadual lançou o novo Protocolo e Linha de Cuidado do programa Goiás Todo Rosa, que visa aprimorar o diagnóstico precoce e reduzir a mortalidade causada pela doença, que continua sendo a principal causa de morte por neoplasias entre mulheres no Brasil. Entre 2023 e 2025, Goiás registrou 3.397 casos de câncer de mama e 1.717 óbitos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Além do protocolo, que visa organizar e qualificar a rede de atenção oncológica, a SES firmou uma parceria com o Instituto Natura, em setembro, no Palácio Pedro Ludovico Teixeira. O acordo garante suporte técnico e logístico para ampliar o alcance das ações do Goiás Todo Rosa em todas as regiões do estado. A iniciativa pretende assegurar que mais mulheres tenham acesso rápido à mamografia, ao tratamento adequado e à reabilitação.
Em entrevista ao Jornal Opção, o ginecologista e obstetra Dr. José Ricardo Lopes Filho, especialista em cirurgia ginecológica que atende na Amice Clínica, explicou que o aumento dos diagnósticos de câncer de mama entre mulheres mais jovens pode estar relacionado ao avanço tecnológico e à ampliação do acesso aos exames. “Na verdade, a gente não tem ainda esses dados de que aumentou a incidência desses cânceres de mamas jovens ou se aumentou o diagnóstico. A gente ainda não sabe dizer isso. Sempre houve esses cânceres sem diagnóstico e agora a gente está conseguindo diagnosticar. Então, a gente ainda não consegue saber se é uma relação causal ou não causal”, afirmou.
O médico destacou que a maior parte dos casos continua concentrada em mulheres acima dos 40 anos, especialmente na fase chamada de perimenopausa. “A faixa etária da nossa prática clínica não é muito diferente da faixa etária que os livros trazem para a gente, que a epidemiologia mostra que é acima dos 40 anos”, explicou.

No Sistema Único de Saúde (SUS), segundo o especialista, o Hospital de Câncer Araújo Jorge é o principal centro de referência para o tratamento de mulheres diagnosticadas com câncer em Goiás. “Geralmente, essas pacientes são todas encaminhadas para o Hospital de Câncer Araújo Jorge, a gente sabe que o serviço do Hospital das Clínicas da UFG também absorve um pouco dessa demanda, mas a grande maioria é encaminhada para o Araújo Jorge”, pontuou.
De acordo com ele, o hospital oferece tratamento completo, desde a cirurgia até as terapias complementares, como quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e hormonioterapia. “Hoje em dia a gente faz cada vez mais cirurgias conservadoras, cirurgias menos mutiladoras, mas com o mesmo resultado das cirurgias de antigamente. Por exemplo, hoje a gente tira um quadrante, ou seja, uma porção da mama, em vez de tirar a mama toda em determinadas situações”, explicou o ginecologista.
O especialista ressaltou que, na prática clínica, não há um aumento real nos casos, mas sim uma ampliação do número de diagnósticos devido ao aprimoramento dos exames e maior conscientização da população. “Na prática a gente não percebe que tem o aumento, não. Quando a gente trabalha só com isso, a gente tem mais essa percepção. É diferente de uma pessoa que não vive aquilo no dia a dia, e aí ela tem três pessoas lá, uma vizinha, um aparente e uma irmã de não sei quem que descobre que está com câncer de mama, a gente acha que está aumentando, mas na prática isso não acontece, quando a gente coloca isso em números, isso não acontece, é um viés de percepção mesmo”, afirmou.
O Outubro Rosa, segundo ele, vai além da prevenção do câncer de mama e deve ser aproveitado como um período de conscientização integral da saúde feminina. “Esse mês do outubro rosa é muito importante, porque além da gente jogar luz e falar e discutir sobre a importância de realizar a mamografia e sobre a prevenção do câncer de mama, a gente aproveita o mesmo mês para jogar a luz e para falar de outros problemas e de outras prevenções que as mulheres têm que fazer”, explicou.
Ele enfatizou que exames como o Papanicolau, essencial para o diagnóstico precoce do câncer de colo do útero, também devem ser lembrados durante a campanha. “A mamografia a gente começa a fazê-la com 40 anos, o Papanicolau, a gente começa a partir dos 25. Então a gente usa o mesmo mês de outubro para falar de coisas que vão além da prevenção ao câncer de mama”, completou.
Segundo a SES-GO, o estado conta atualmente com 123 aparelhos de mamografia disponíveis pelo SUS. A pasta segue a recomendação do Ministério da Saúde, que orienta a realização do exame a cada dois anos em mulheres de 40 a 74 anos. Em 2023, foram realizados 113.855 exames, enquanto em 2024 o número caiu para 107.697. Já em 2025, até agosto, 61.608 mamografias foram realizadas na rede pública.
Estudos da Sociedade Brasileira de Mastologia indicam que o diagnóstico precoce pode reduzir em até 45% a mortalidade por câncer de mama, reforçando a importância da ampliação do acesso aos exames.
Para o Dr. José Ricardo, o foco deve ser o cuidado integral. “A gente usa esse mês para falar da saúde da mulher de forma integral e não focar somente na questão do câncer de mama. Não quer dizer que o câncer de mama não seja importante, mas a gente usa esse mês para falar de outras coisas também”, concluiu o especialista.
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