Um composto à base de óleo essencial de tomilho (Thymus vulgaris) desenvolvido pela Unicamp apresentou 100% de eficácia no combate às larvas do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya.

A tecnologia, criada na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA-Unicamp), foi licenciada em 2024 para a empresa Zöld Brasil, que agora conduz o processo de liberação do produto junto às autoridades regulatórias.

Em testes laboratoriais e de campo realizados com apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e da Prefeitura de Adamantina (SP), o larvicida à base de tomilho eliminou todas as larvas do Aedes em até 48 horas.

Segundo a engenheira química Ana Sílvia Prata, líder do estudo, o produto é indicado para pequenos focos domésticos, como garrafas, vasos, pneus e recipientes onde há acúmulo de água parada.

O desenvolvimento começou há nove anos, com financiamento da FAPESP, e gerou um artigo publicado na revista Industrial Crops and Products. Prata explica que o diferencial da inovação não é o princípio ativo, mas o carreador de amido que encapsula o óleo de tomilho e libera seus compostos de forma lenta e controlada.

“A principal novidade é a matriz de amido que criamos para encapsular o óleo de tomilho e garantir sua liberação gradual”, afirma a pesquisadora. “A literatura mostra que vários óleos têm potencial larvicida, mas o desafio é aplicá-los no campo com eficácia.”

Óleos essenciais normalmente têm baixa solubilidade em água e alta volatilidade, o que reduz sua eficiência no ambiente onde as larvas se desenvolvem. A solução foi criar um grânulo biodegradável de amido de milho, com cerca de 5 mm, capaz de afundar na água, liberar o composto ativo por dias, e manter a eficácia por mais de quatro anos.

Além disso, a partícula pode ser reutilizada até cinco vezes, já que resiste aos ciclos de chuva e seca. O biólogo Cláudio von Zuben, da Unesp, avalia a inovação como promissora:

“A liberação gradual do timol prolonga o efeito do larvicida, o que é muito interessante. A formulação também se mostra bastante estável.” Ele aponta que o produto é voltado a pequenos focos de água parada, justamente os mais relevantes para o controle do mosquito em ambientes domésticos.

Equipe premiada e tecnologia patenteada

Além de Prata, participaram do desenvolvimento Marcio Schmiele (químico e tecnólogo em alimentos), Juliana Dias Maria (engenheira de alimentos) e Johan Bernard Ubbink (Cal Poly, EUA). O grupo venceu o Prêmio Inventores 2025, na categoria Propriedade Intelectual Licenciada, concedido pela Inova Unicamp.

A Zöld Brasil, responsável pela tecnologia, já conduz o processo regulatório na Anvisa. “Estamos atualizando a documentação e realizando os testes exigidos para enquadrar os ativos como desinfestantes ou inseticidas”, explica César Xavier, cofundador da empresa.

A expectativa é que o larvicida natural seja liberado para venda no primeiro semestre de 2026. Após a aprovação no Brasil, a empresa planeja iniciar a internacionalização do produto. “Identificamos grande potencial no exterior, onde o processo regulatório pode ser mais ágil do que no Brasil”, destaca Xavier.

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