Novo trecho da delação de Palocci revela possíveis esquemas com bancos do País
19 julho 2019 às 11h12

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Agências teriam realizado doações eleitorais para campanhas do PT para garantir favorecimentos

Em novo trecho da deleção de Antonio Palocci obtido pelo Globo, o ex-ministro disse que alguns principais bancos do País realizaram cerca de R$ 50 milhões em doações eleitorais para campanhas do PT. Em contrapartida, a legenda teria favorecimentos nas gestões dos ex-presidentes Lula e Dilma.
Esta delação premiada foi assinada em 2018 com a Polícia Federal (PF) e homologado pelo Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após a negativa do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba, que considerou as provas insuficientes. Esses anexos, que envolvem bancos, estão em sigilo. Palloci foi ministro da Fazenda (Lula) e chefe da Casa Civil (Dilma).
As instituições, conforme Palocci, queriam acesso a informações antecipadas de mudanças na taxa básica de juros (Selic), além de apoio em suas defesas e de acionistas. Entre os bancos citados estão: Bradesco, Safra, BTG Pactual, Itaú Unibanco e Banco do Brasil. Ao jornal, os envolvidos alegaram que as doações foram feitas de forma legal e negaram as acusações e disseram o ex-ministro cria versões sem provas por benefícios da Justiça.
Provas
Depois de fechar o acordo, o ex-ministro, entregou documentos, a fim de comprovar o delatado. Entre eles está um aparelho de seu carro que guardava os deslocamentos e anotações de sua agenda. O intuito era comprovar as reuniões e que doações tiveram contrapartida.
Na delação, ele cita que uma operação de socorro do BNDES a uma empresa, R$ 2,4 bilhões à Aracruz Celulose, teria favorecido o Banco Safra – que tinha participação na instituição. Isto teria garantido a venda da mesma, que teve prejuízo em 2008 de R$ 4,2 bi, ao grupo Votorantim.
A venda da fatia do Safra teria sido de R$ 2,7 bi, à época. Segundo Palloci, o presidente do BNDES, na ocasião, Luciano Coutinho divulgou nota pelo apoio da compra Aracruz pelo Votorantim a pedido de Lula. Em 2010 e 2014, Safra e Votorantim fizeram repasses as campanhas do PT, como contrapartida, delatou o ex-chefe da Casa Civil.
A prestação de contas de 2010, inclusive, revela repasse de R$ 1,4 milhão ao diretório do PT pelo banco Safra e R$ 2,3 milhões ao comitê financeiro da campanha de Dilma pela Votorantim. Em 2014, foram $ 2,75 milhões à campanha à reeleição da presidente, e o grupo Votarantim, R$ 650 mil para o diretório nacional da sigla, respectivamente.
Informações privilegiadas
O Itaú Unibanco, segundo Palocci, repassou R$ 4 milhões, em 2010, para a campanha de Dilma. A razão teria sido o apoio do governo na fusão das duas empresas, ocorrido junto ao Banco Central em 2009 e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 2010 – esta validou a junção em agosto daquele ano e era mais relutante ao acordo, segundo Antonio.
Já sobre informações privilegiadas sobre a Selic, Palocci diz que a informação privilegiada contribuía para o lucro dos bancos no mercado e era ele mesmo e Guido Mantega, seu sucessor no Ministério da Fazenda, que conseguiam as informações privilegiadas e passam às instituições.
O Bradesco, além de ter o apoio do governo em decisões estratégicas da Vale, era um dos bancos pagavam ao partido para obter informações privilegiadas do Banco Central, declarou Palocci. A agência bancária era um dos principais acionistas da mineradora, à época.
Inclusive, Roger Agnelli, que presidiu a Vale na gestão Lula, foi indicado para o cargo pelo Bradesco. Segundo o delator, eles mantinham diálogos frequentes.
Mais
O BTG Pactual também se interessava pelas informações antecipadas sobre juros e, conforme a delação, em 2014, fez o repasse de R$ 9,5 milhões à campanha de Dilma. Em 2010, o banco pagou R$ 2 milhões para que a base do governo defendesse os interesses do banco. As doação foram realmente feitas e constam no TSE.
Porém, o ex-ministro também disse que o BTG repassou, em 2006, R$ 4 milhões para campanha de Lula, mas esta não está na prestação de contas de governo. O intuito, segundo ele, era a extinção de um processo contra o acionista da instituição, André Esteves, no Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN).
Um ano depois, o CRSFN acolheu recurso do empresário e deu uma advertência, em vez de pena de inabilitação por três anos, mas não há registro da suposta doação. A Pactual Corretora de Valores que respondia conjuntamente teve a sanção de multa arquivada.
Já sobre o Banco do Brasil, Palocci disse que, em 2008, uma operação para liberação de crédito para o grupo Parmalat foi feita de forma irregular e que ele teria recebido R$ 100 mil de propina da empresa privada por um contrato fictício com sua consultoria. Esta teria atuado pela liberação dos valores à companhia de laticínios, que estava em recuperação judicial. (Com informações do Globo)