Novo projeto em cruzamento de ferrovia aumenta risco de acidentes em Anápolis

08 outubro 2025 às 19h07

COMPARTILHAR
O engenheiro e especialista em transporte ferroviário Marcos Aires manifestou preocupação com um projeto de passagem em nível proposto pela empresa Aurora da Amazônia, que tenta instalar um posto seco em Anápolis. Segundo ele, a obra, aprovada pela operadora VLI, “pode ampliar significativamente o risco de acidentes ao desrespeitar normas básicas de segurança ferroviária”.
O caso marca mais uma polêmica envolvendo a Aurora e a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Em agosto, a Justiça de Goiás, por meio da 1ª Vara Cível de Anápolis, determinou que a empresa desocupasse um trecho da faixa de domínio da ferrovia ocupado irregularmente e autorizou a demolição das construções ilegais no local.
O novo projeto da Aurora prevê a construção de uma passagem em nível para cruzamento da ferrovia, ligando à malha da FCA e ao Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia). O problema, segundo especialistas, é que a obra invade área verde de domínio público da Codego e não cumpre exigências técnicas previstas em norma da ABNT (NBR 15680), que determina distância mínima de 1.500 metros entre passagens em nível.
“Via de regra, rodovia e ferrovia devem passar em desnível, para que uma não interrompa o fluxo da outra. O estado mais seguro e eficiente é quando cada uma opera sem interferência”, explica Aires. Ele ressalta que, ao duplicar cruzamentos próximos, a probabilidade de falhas humanas e colisões aumenta, sobretudo em condições de neblina ou pouca visibilidade.

O especialista também aponta que, além dos riscos imediatos, o projeto pode gerar impacto na logística e na ocupação urbana do entorno do Daia. “Uma intervenção mal planejada pode comprometer futuras expansões industriais e exigir novos investimentos públicos para correção de traçado. Por isso, essas obras precisam seguir critérios técnicos rigorosos e ser precedidas de licenciamento ambiental”, observa.
Casos recentes
Na última semana, dois veículos colidiram com um trem estacionado na GO-330, em ponto de cruzamento ferroviário em Anápolis, deixando um ferido. O episódio reforça o alerta sobre os riscos das passagens em nível — que também têm causado acidentes recentes em Araraquara (SP) e Vassouras (RJ) e que ganharam repercussão nacional.
Para o especialista, o caminho mais seguro é substituir cruzamentos por obras em desnível, como viadutos ou túneis. “Enquanto o Brasil não investir em infraestrutura que elimine essas interseções, continuaremos convivendo com riscos que poderiam ser evitados”, conclui Aires.
Leia também: