Apesar de ser o câncer mais frequente entre os homens brasileiros, o câncer de próstata ainda enfrenta barreiras culturais e psicológicas que dificultam o diagnóstico precoce.

Durante o Novembro Azul, especialistas destacam que o preconceito e o medo são os principais fatores que levam os homens a adiar consultas médicas. Um dos principais obstáculos apontados pelo especialista é o exame de toque retal, que muitos homens encaram com receio.

“O principal medo é o desconforto, mas o exame é extremamente breve e, na maioria das vezes, leve e transitório. Mesmo aqueles que sentem algum desconforto, 94% concordam em repetir o exame para cuidar da saúde”, explica o urologista Gustavo Romeiro. Para ele, a campanha é essencial para desmistificar a prevenção.

“O câncer de próstata é uma doença extremamente prevalente. Chega a 71 mil casos por ano no Brasil. A dificuldade de buscar ajuda vem de uma parte cultural, mas também de medos relacionados a diagnósticos e tratamentos”, afirma.

O urologista ressalta ainda a importância do rastreio preventivo, que deve começar aos 50 anos, ou antes em casos de histórico familiar ou fatores de risco específicos.

“Quando diagnosticado precocemente, o índice de cura é muito maior. Hoje temos técnicas modernas, como a cirurgia robótica, que proporcionam recuperação mais rápida e melhores resultados funcionais”, completa.

Urologista Gustavo Romeiro | Foto: Arquivo pessoal

Questões emocionais e psicológicas

Mas a resistência masculina não se limita à saúde física. Segundo o psiquiatra Fernando Loyola, as questões emocionais e psicológicas também são negligenciadas.

“É muito mais mulher que busca ajuda psiquiátrica. Os homens apresentam uma taxa significativamente menor de utilização de serviços de saúde e saúde mental. Normas sociais da masculinidade valorizam a autossuficiência e a aversão à vulnerabilidade”, explica.

Ele ressalta que transtornos como a ansiedade social, que envolve medo do julgamento alheio, são mais comuns entre os homens e muitas vezes passam despercebidos.

“O homem é ensinado desde cedo a não demonstrar fraqueza. Inconscientemente, ir ao médico é visto como um sinal de vulnerabilidade”, afirma Loyola. Familiares e amigos podem desempenhar papel fundamental na busca por ajuda, desde que saibam se comunicar de forma adequada.

O psiquiatra explica que histórias de superação têm efeito positivo: “Existe o efeito Papageno, que estimula pessoas a procurarem ajuda mostrando casos de superação. O contrário, chamado efeito Werther, ocorre quando a comunicação é inadequada e pode até estimular comportamentos de risco”.

Psiquiatra Fernando Loyola | Foto: Arquivo pessoal

Campanha em Goiás

O Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), promove a campanha Novembro Azul com o objetivo de ampliar o olhar sobre a saúde do homem e reforçar a prevenção de doenças e situações que mais os acometem e matam.

Neste ano, o tema central das ações será a prevenção de violências e acidentes, alinhando-se à proposta do Ministério da Saúde (MS). A Superintendência de Políticas e Atenção Integral à Saúde de Goiás (Spais) preparou uma série de atividades, incluindo o Dia D do Novembro Azul, que será realizado no próximo dia 19.

Entre as ações previstas estão a mobilização das unidades estaduais, prédios iluminados de azul e atividades educativas sobre saúde masculina.

Dados preocupantes

Os números reforçam a necessidade de atenção à saúde masculina em Goiás. Entre 2013 e 2023, ocorreram 472.876 óbitos masculinos, sendo as principais causas as doenças do aparelho circulatório (118.655), as neoplasias (71.667) e as causas externas (68.668).

Somente em 2023, ocorreram 5.824 óbitos por causas externas, com maior incidência na faixa etária de 20 a 39 anos (2.252 casos). Entre essas causas, destacam-se acidentes de trânsito, agressões e lesões autoprovocadas.

Criado em 2003 como movimento internacional de conscientização sobre o diagnóstico precoce do câncer de próstata, o Novembro Azul evoluiu para uma campanha de promoção, proteção e prevenção da saúde integral do homem.

No Brasil, essas ações estão alinhadas à Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (Pnaish), que busca reduzir a morbimortalidade masculina por meio do enfrentamento de fatores de risco e da ampliação do acesso à Atenção Primária.

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