Barro Alto, no norte de Goiás, com cerca de 12 mil habitantes, tornou-se um ponto estratégico em uma disputa bilionária internacional por níquel, mineral essencial para a produção de aço inoxidável e baterias, e fundamental na transição energética mundial.

Conforme informações do jornal Folha de S. Paulo, desde 2004, a Anglo American, multinacional de origem sul-africana e britânica, opera na região com uma planta de produção de níquel. No início deste ano, a empresa vendeu essa unidade, localizada em Barro Alto, à MMG, braço da estatal chinesa China Minmetals Corporation, em uma transação de US$ 500 milhões (aproximadamente R$ 2,7 bilhões). O acordo inclui também a planta de Niquelândia e dois projetos de exploração em Mato Grosso e Pará, marcando a entrada da China no mercado brasileiro de níquel.

A negociação provocou reações imediatas no cenário internacional. Na Europa, a transação pode ser investigada pela Comissão Europeia. No Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) foi acionado após reclamações da holandesa Corex Holding, que alega que a operação aumenta a concentração de mercado sob controle chinês e compromete a segurança do fornecimento de níquel. A Corex, controlada pelo bilionário turco Robert Yüksel Yıldırım, afirmou à Folha que fez uma oferta de US$ 900 milhões, quase o dobro do valor pago pelos chineses, e questiona o resultado do leilão.

Segundo a Corex, a aquisição pela MMG concentraria cerca de 60% da oferta global de níquel sob empresas ligadas à China, enquanto no Brasil, as operações de Barro Alto e Niquelândia responderiam por mais da metade da produção nacional, o que, na visão da concorrente, ameaça a concorrência e a segurança do suprimento europeu.

A disputa insere o Brasil em um contexto estratégico global. Embora a China domine o refino de minerais críticos como níquel, cobalto e terras raras, o país depende de minas no exterior para abastecer suas fundições. Essa estratégia de aquisição de ativos internacionais tem impactado o preço global do níquel, especialmente em regiões como Indonésia, onde Pequim controla grande parte da produção.

A Anglo American, em nota enviada ao jornal Folha de S. Paulo, explicou que a venda faz parte de uma estratégia de simplificação do portfólio global, priorizando produção de cobre, minério de ferro de alto teor e nutrientes agrícolas. Já a MMG informou que financiou a aquisição com recursos próprios e que manterá diálogo transparente com reguladores brasileiros para atender a todas as exigências legais.

Enquanto a disputa acontece, Barro Alto acompanha com expectativa o futuro da mineração local. Iran Fernandes, vice-presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Barro Alto (Aciaba), afirma que a chegada da MMG pode impulsionar o município. “A Anglo ajudou Barro Alto a crescer, mas a cidade parou no tempo. A mineração trouxe progresso, mas ainda não projetou o futuro. Esperamos que a MMG dê um F5 nisso e que haja novas oportunidades para a população local”, afirmou à Folha.

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