“Não é a solução para problemas de aglomeração”, diz presidente da Acieg sobre decreto de escalonamento
19 maio 2020 às 17h59

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Rubens Fileti, presidente da Acieg, avalia que decreto não irá repercutir bem nos próximos dias e cobra medidas de retomada de crescimento da economia

Com decreto municipal 951 revisado, a Prefeitura de Goiânia determinou a obrigatoriedade da adoção de escalonamento de horários pelos comércios, empresas e serviços. De acordo com a administração pública, o objetivo é minimizar aglomerações de trabalhadores que utilizam o transporte coletivo dentro dos veículos, terminais, pontos de embarque e desembarque para evitar a propagação da Covid-19.
De acordo com a prefeitura, o decreto foi redigido após escutar as demandas de entidades governamentais e classistas. No entanto, o entendimento da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg) é de que muitas pontas ficaram soltas e é necessário maior clareza.
Um dos problemas avaliados pelo presidente da Acieg, Rubens Fileti, é em relação aos horários de fechamento dos estabelecimentos. O decreto determina o horário de abertura, mas não do encerramento da atividade. “Pode gerar um gargalo”, avaliou. “Oficinas de concessionária abrem às 10h e oficinas que não são de concessionária às 7h. São esses descasamentos de abertura de seguimento que fazem com que a gente tenha um problema com os associados que reclamam durante o dia”, pontuou.
Ele afirma que, de fato, a Prefeitura buscou ouvir as entidades classistas, mas que a Acieg sempre deixou claro que não acredita que o decreto por si só irá solucionar o problema de aglomeração. “Teve um diálogo. Foi solicitado quais seriam os melhores horários para abertura. Alguns que foram sugeridos pela associação foram acatados, outros eles fizeram a decisão em cima de pesquisas que foram feitas, mas a gente sempre mostrou em todas as vezes que houve esse diálogo que o decreto isoladamente não teria efeito”, contou o presidente.
Solução ineficaz
“O decreto, do jeito que foi feito, acho que não é a solução para os problemas de aglomeração, principalmente em transporte público. Acho que tem uma quantidade muito maior do que estão sendo disponibilizados, principalmente em horários de pico, aliado junto com o decreto e outras medidas, como apoio a essas empresas que estão sofrendo financeiramente do transporte público, como linhas de crédito diferenciada, apoio na parte de tributação, seja do governo estadual seja do municipal”, argumentou.
“Não acreditamos que esse decreto não vai repercutir positivamente nos próximos dias”, disse Rubens. O presidente da Acieg acredita que outras medidas para ajudar os empresários tenham de ser elaboradas, já que o momento é financeiramente crítico.
“O setor produtivo não acredita que o decreto causará tanto impacto em seus faturamentos. Existem outros problemas acontecendo. A gente acredita que temos que tomar outras ações para que a economia retome. Mesmo com esse comércio aberto hoje produzindo, a economia não está normal e as quedas de faturamento são astronômicas. Alguns seguimentos do varejo têm aí 70, 75% de queda de venda”, informou.
“A gente defende uma reabertura de todo comércio de rua, de vários seguimentos que estão fechados, mas de uma forma responsável. Inclusive lançamos uma campanha, agora nessa semana, para mostrar para a população empresarial a importância de utilizar os EPIs, máscaras, álcool gel e por aí vai. Proteção dos funcionários e dos clientes dentro dos estabelecimentos para que a gente não tenha um decreto que feche tudo novamente. Nossa preocupação é essa.”
“O decreto deveria ter várias regras que não foram inclusas. Ele não tem absolutamente nada de novo. Foi baseado no decreto do governador, a diferença é só o escalonamento de abertura. Nem o de fechamento tem essa regra. Você consegue fazer uma fiscalização forte nessas empresas, mas é impossível da prefeitura fiscalizar a população”, opina.
“Como a prefeitura vai saber se aquele cidadão tá falando, com cem porcento de certeza, que ele é daquele seguimento daquela determinada hora para não gerar aglomeração? A prefeitura não tem como fazer essa medição e nem dispositivos legais, está na Constituição o ato de ir e vir. Então como vai proibir um cidadão de acordar duas ou três horas mais cedo dependendo de onde ela mora para chegar a determinada empresa? As empresas vão cumprir o decreto e orientar seus colaboradores, mas fica sem sentido cobrar só de uma ponta”, critica Rubens.
Sobre o prefeito sugerir que os empresários buscassem os funcionários em casa, o presidente avaliou em tom de reprovação. “É inviável em um momento como este. Não temos dinheiro nem para pagar a folha de pagamento, como empresário vai cumprir com esse tipo de ajuda, principalmente as micro e pequenas empresas? Isso não casa com o dia a dia da realidade das empresas. Não pegou bem essa fala do prefeito. Teve um impacto muito negativo dentro dos associados da Acieg”, afirmou.
Retomada
Para Rubens, aparentemente o fantasma do lockdown não assombra mais tanto. Ele acredita que em breve o comércio deve retornas às atividades. “Não acreditamos que o governador chegar nessa posição. Estamos com uma pauta de reabertura a partir de 1º de junho. Nós queremos que efetivamente vários estabelecimentos, especialmente do varejo, tenha sua retomada efetiva. Temos aí o Dia dos Namorados, que é uma grande data para o comércio, que a gente precisa fazer alguma coisa”, lembrou.