Morte de cantora gospel é mais um absurdo da violência doméstica, diz especialista

04 novembro 2023 às 15h08

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A recente tragédia que resultou na morte de Sara Mariano, na Bahia, se tornou mais um capítulo de violência doméstica. Em média, o Brasil registra quatro feminicídios por dia, conforme apontam os dados do último Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Sara era uma pastora e cantora gospel. O suspeito da violência fatal é o próprio marido, que teria confessado o crime. Seu corpo carbonizado foi encontrado em um matagal.
De acordo com especialistas, a dinâmica abusiva muitas vezes se esconde por trás de violências psicológicas e, em alguns casos, até espirituais, onde a religião é utilizada para subjugar as vítimas. As condutas, conforme alerta a psicóloga jurídica e neuropsicanalista, Gabriela Saab, começam de maneira sutil e tendem a se intensificar com o tempo, culminando, em alguns casos, no feminicídio.
“É importante notar que as vítimas de violência doméstica nem sempre morrem fisicamente nas mãos de seus agressores. Algumas sofrem de doenças psicossomáticas decorrentes dos abusos ao longo dos anos, enquanto outras chegam a tirar suas próprias vidas devido à insuportável situação. Muitas mulheres sofrem em silêncio, optando por serem prisioneiras de seus lares, sabendo que o sistema judiciário nem sempre é capaz de protegê-las. É assim que essas mulheres também morrem, mas em vida”, explica.
Além disso, Saab também critica o sistema judiciário, que, segundo ela, “muitas vezes não acompanha a evolução da dinâmica psicológica da violência doméstica e carece de preparo para compreender a mente perversa do agressor”.
Para ela, é crucial admitir que o Brasil enfrenta desafios significativos. Medidas educativas e preventivas são necessárias, juntamente com conscientização da população e programas de reabilitação para agressores.
“Além disso, é imprescindível que o sistema judiciário seja adequadamente treinado, uma vez que as vítimas que buscam romper com ciclos abusivos frequentemente não têm os recursos emocionais e financeiros necessários para enfrentar processos judiciais prolongados”, argumenta.
Entender a origem da mente agressora, as circunstâncias que moldaram esses agressores, as influências transgeracionais que receberam de seus antepassados é essencial, na visão da especialista, para combater efetivamente a dinâmica abusiva e os ciclos de violência que culminam em tragédias.
“Essa é uma questão humanitária que transcende fronteiras e se enquadra em tratados internacionais. Portanto, é uma sugestão para a implementação urgente de novas políticas que visem abordar essa problemática de forma holística e eficaz”, finaliza.
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