Morre aos 98 anos a escritora Lygia Fagundes Telles
03 abril 2022 às 12h44

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Ela ocupava a 16ª cadeira da Academia Brasileira de Letras desde a década de 80 e foi vencedora dos prêmios Jabuti e Camões
Neste domingo, 3, a escritora paulista Lygia Fagundes Telles morreu em São Paulo aos 98 anos. Ela se consagrou como uma das maiores escritoras do país e era integrante da Academia Brasileira de Letras desde 1985. Durante sua vida, recebeu o prêmio Jabuti (1966, 1974 e 2001) e o mais importante da literatura brasileira, o Camões, em 2005. Além de ter adaptações de suas obras para o cinema, teatro e TV, também possui traduções para o alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, polonês, sueco, tcheco e português de Portugal.
Lygia nasceu em São Paulo em 19 de abril de 1923. Formada em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), foi procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, cargo que exerceu paralelamente ao ofício de escritora até se aposentar. Segundo a ABL, ainda na adolescência, Lygia já demonstrava paixão pela escrita. Na época, a literatura era incentivada, sobretudo, por dois grandes amigos: Carlos Drummond de Andrade e Erico Verissimo.
Uma de suas obras mais famosas, Ciranda de Pedra (1954), virou novela. Nos anos 50, outro importante livro, Histórias do Desencontro (1958), recebeu o Prêmio do Instituto Nacional do Livro. Alguns anos mais tarde, Verão no Aquário (1963) foi o ganhador do prêmio Jabuti. Em 1967, em parceria com seu marido Paulo Emílio Sales Gomes, crítico de cinema, escreveu o roteiro para cinema Capitu (1967) baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Nos anos 70, Lygia publicou Antes do Baile Verde (1970), As Meninas (1973), Seminário dos Ratos (1977) e o livro de contos Filhos Pródigos (1978). Sobre As Meninas, ela disse ao jornal Globo, em 2011: “Entre os meus romances, só ‘As meninas’ é uma ficção datada (…) foi escrito com a atenção deliberada para deixar meu testemunho sobre a ditadura militar. Testemunar seu tempo é uma das obrigações do escritor”. Em 1985, durante o discurso para a Academia Brasileira de Letras, a escritora disse:
“Imaginai uma reunião na linha dos malditos, dos raros, daqueles que pelos caminhos mais inesperados escolheram a ruptura. Fora do tempo e ocupando o mesmo espaço estão todos em uma sala. É noite. Os gênios ignorados num país de memória curta, que parece preferir os mitos estrangeiros, como se estivéssemos ainda no século 17, sob o cativeiro do reino. Os mitos estrangeiros que continuam sim nos vampirizando. Nós já estamos quase esvaídos e ainda oferecemos a jugular no nosso melhor inglês, o vosso amor é uma honra para mim”.
Também ao Globo, em 2011, Lygia comentou sobre o que é ser escritora:
“O escritor pode ser louco, mas não enlouquece seu leitor. Ao contrário: o escritor pode afastá-lo da loucura. A função do escritor é produzir sentido e só o sentido se opõe à loucura. O escritor pode ser corrompido, pode ser triste, pode não prestar, mas ele sempre faz companhia a seu leitor. Por isso não consigo parar de escrever. Se você para de escrever, se torna infeliz, pois está desfazendo uma vocação. Está tapando os ouvidos para um chamado. Você está traindo esse chamado e, assim, traindo a si mesmo”.