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Andar. Correr. Sinônimos de saúde. Sinônimos de vida longa. Fauja Singh, que morreu no domingo, 13, aos 114 anos, é a prova disso. Viver um século e 14 anos não é para qualquer um. É para os fortes. É o caso do célebre indiano, o maratonista mais velho do mundo.

Detalhe: Fauja Singh não morreu por falta de saúde. Mas, ao contrário, por excesso dela. O “jovem” da Índia morreu atropelado. Ele andava por Beas Pind, no Estado do Punjab (o mais rico da Índia), quando foi atropelado por um motorista descuidado.

O mundo inteiro aplaude Fauja Singh. Porque era um exemplo.

A BBC informa que moradores de Beas Pind — aldeia natal do maratonista — chegaram a socorrer Fauja Singh. Levaram o atleta ao hospital, mas ele não resistiu. “Uma busca está em andamento e o acusado será capturado em breve”, garantiu o policial Harvinder Singh.

Conhecido no mundo todo como “Tornado de Turbante”, Fauja Singh começou a correr em maratonas aos 89 anos. Ainda um “menino”. Ele era agricultor no Punjab. Havia perdido sua mulher e um filho. A depressão o “agarrou” fortemente. Como escapar desta “inimiga” perigosa e, às vezes, letal?

Fauja Singh começou a correr e não parou mais. Era o seu novo propósito na vida. Ele estreou em Londres, em 2000, numa corrida de longa distância. As pessoas diziam: não dará conta. Deu. E continuou a correr. Sem parar.

O indiano longevo participou de mais nove maratonas, em 13 anos, e terminou todas. A partir de então, ele se tornou um ícone global das maratonas. Por causa de resistência infinita.

Quando Mahatma Gandhi, o homem da Independência da Índia morreu, em 1948 — aos 78 anos —, Fauja Singh já tinha 37 anos. Era um pós-balzaquiano.

Fauja Singh nasceu em 1º de abril de 1911, mas, como não tinha certidão de nascimento — nem se preocupava com isso —, o Guiness World Records não teve como registrá-lo como o maratonista mais velho de todos os tempos.

Porém, Fauja Singh não se preocupava com Livros dos Recordes. Por isso, quando se tornou a primeira pessoa de 100 anos a completar uma maratona, em Toronto, no Canadá, em 2011, a festa não foi só dele, e sim global. Maratonistas de Guapó ao Oiapoque e de Anápolis ao Chuí comemoraram mais uma vitória do indiano. Diga-se: ele não precisava nem vencer. A corrida em si já era uma vitória.

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Fauja Singh e a rainha Elizabeth: a majestade do povo e a majestade da elite | Foto: Reprodução

Aos 102 anos, batendo recordes, Fauja Singh correu os 10 km da maratona de Hong Kong. Frise-se: correu mesmo, terminou a prova.

Famoso e simpático, fez uma campanha da Adidas — a gigante alemã — ao lado do ex-boxeador Muhammad Ali. O slogan da campanha era “Nothing is Impossible”. Muito apropriado para os dois atletas (lembrando que Muhammad Ali derrotou George Foreman no Zaire, em 1974, o que parecia impossível).

Sempre animado e nunca se recusando a comparecer às provas, em 2012, conduziu a tocha olímpica nos Jogos de Londres. O mundo o aplaudiu. Parecia, até, que era um dos competidores olímpicos.

Famoso, um superstar na e fora da Índia, Fauja Singh foi recebido pela rainha da Inglaterra, Elizabeth II, no Palácio de Buckingham. Era o império das majestades — uma da elite e a outra do povo. Há quem postule que Fauja Singh é que estava “recebendo” a rainha dos britânicos.

“Eu era o mesmo Fauja Singh antes de entrar no mundo da corrida, mas ela me deu uma missão de vida”, disse à BBC, em junho de 2025.

Por que Fauja Singh viveu tanto e poderia ter vivido mais, se não fosse o atropelamento? Entrevistado, dizia que tinha vida controlada. Seu ensinamento: “Comer menos, correr mais e permanecer feliz — esse é o segredo”.

Em 2013, talvez aconselhado pelos parentes e por médicos, Fauja Singh decidiu se aposentar das pistas. Ele apreciava viajar para a Inglaterra e viver ao lado da família e daquele que o treinava, o amigo Harmander Singh.

“Fauja Singh era um homem verdadeiramente inspirador. Sua disciplina, vida simples e profunda humildade deixaram uma marca duradoura em mim”, assinalou a deputada britânica Preet Kaur Gill. Além da comunidade sikh, o atleta indiano inspirou corredores de todas as idades — e não só os idosos — pelo mundo afora. (E.F.B.)