Mistério jurássico desvendado: peixes do período Jurássico morriam engasgados

13 julho 2025 às 19h00

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Um estudo publicado na revista Scientific Reports revelou um padrão incomum de morte entre peixes do período Jurássico: muitos deles foram encontrados fossilizados com belemnites — cefalópodes semelhantes a lulas — presos nas gargantas. A pesquisa analisou fósseis de aproximadamente 152 milhões de anos, coletados na formação calcária de Solnhofen, na Alemanha, famosa por sua excepcional preservação de fósseis.
Os paleontólogos Martin Ebert e Martina Kölbl-Ebert, da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, identificaram múltiplos exemplares de peixes do gênero Tharsis com restos de belemnites alojados na boca e nas guelras. Em todos os casos, o rostro rígido — uma estrutura afiada e aerodinâmica semelhante a um projétil — perfurava o aparelho branquial, enquanto o fragmocone, a concha interna do animal, permanecia na entrada da boca.
A conclusão dos cientistas é clara: esses peixes morreram asfixiados após tentar ingerir presas que não conseguiam engolir nem cuspir de volta. Os belemnites simplesmente travavam na anatomia interna dos peixes.
Apesar de o gênero Tharsis ser composto por peixes pequenos, que se alimentavam por sucção de larvas, zooplâncton e detritos orgânicos, a análise dos fósseis sugere que, ocasionalmente, esses animais tentavam se alimentar de presas muito maiores. No entanto, há uma nuance importante na hipótese levantada pelos pesquisadores: os belemnites já estariam mortos quando foram engolidos.
Carniçaria submarina
Os fósseis de belemnites encontrados estavam recobertos por bivalves — um indicativo de que seus corpos flutuavam mortos, servindo de substrato para outros organismos marinhos. Essa evidência sugere que os peixes foram atraídos não pela caça ativa, mas por restos em decomposição cobertos por biofilmes de algas e bactérias, comuns em ambientes aquáticos ricos em matéria orgânica.
Ao tentar sugar o que parecia ser alimento fácil, os peixes acabavam engolindo também o rostro rígido do belemnite. Uma vez dentro da boca, a estrutura pontiaguda penetrava as guelras e se fixava ali, tornando impossível a expulsão. O resultado era a obstrução do sistema respiratório e a morte por sufocamento.
Importância científica da descoberta
A descoberta é significativa por diversas razões. Primeiro, ela oferece uma rara janela para os perigos cotidianos enfrentados por espécies extintas no ecossistema marinho do Jurássico. Segundo, ela contribui para o entendimento de hábitos alimentares e interações ecológicas pouco documentadas em registros fósseis.
Casos de fósseis que capturam eventos de morte em tempo real — chamados de fósseis instantâneos — são extremamente raros. Neste caso, o conjunto de fósseis mostra repetidamente a mesma causa de morte em diferentes indivíduos, o que fortalece a interpretação dos cientistas.
Além disso, o estudo destaca o risco de estratégias alimentares baseadas em sucção em ambientes onde restos orgânicos e detritos flutuantes podem ocultar perigos. Essa dinâmica pode ter desempenhado um papel evolutivo na adaptação ou extinção de algumas espécies.
Conclusão
No mar raso que cobria a região da atual Baviera durante o Jurássico, a vida era abundante — mas cheia de armadilhas. Para os pequenos peixes do gênero Tharsis, um simples erro de julgamento ao tentar se alimentar de um corpo flutuante coberto por biofilmes podia ser fatal.
A pesquisa revela como interações simples — como tentar fazer um lanche — podem deixar registros trágicos e reveladores no registro fóssil. E mostra, mais uma vez, como a paleontologia continua desenterrando histórias surpreendentes das profundezas do tempo.
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