Ministério Público cumpre mandados em Senador Canedo desarticulando esquema do PCC que sonegou R$ 7,6 bi com combustíveis

28 agosto 2025 às 10h55

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O Ministério Público de Goiás cumpriu 10 mandados de busca e apreensão em empresas relacionadas ao comércio, produção e distribuição de combustíveis em Senador Canedo, nesta quinta-feira, 28. A ação foi realizada em apoio a megaoperação Carbono Oculto, considerada a maior contra o crime organizado da história do país, que desarticula um esquema de fraudes, lavagem de dinheiro e sonegação de impostos comandado por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Além de Goiás, outros mandados de busca, apreensão e prisão foram cumpridos em pelo menos oito estados. A megaoperação tem alvos em São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina, suspeitos de crimes contra a ordem econômica, adulteração de combustíveis, crimes ambientais, lavagem de dinheiro, fraude fiscal e estelionato.
Segundo o Ministério Público de São Paulo, os envolvidos no esquema teriam sonegado mais de R$ 7,6 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais no setor de combustíveis. Em Goiás, o MP agiu por intermédio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em parceria com a Receita Federal e a Polícia Militar, o que mobilizou dois promotores de justiça e 15 agentes de segurança institucional, 12 policiais militares e 8 auditores da Receita Federal.

A decisão judicial da 2ª Vara Criminal da Comarca de Catanduva/SP estima que a organização criminosa arrecadou mais de R$ 8 bilhões, lesando toda uma cadeia econômica ligada ao comércio de combustíveis. Mais de 300 postos de combustíveis estão envolvidos nessa fraude, segundo a polícia.
Como o nome das empresas e investigados de Senador Canedo não foram divulgados, o Jornal Opção não conseguiu contatar as defesas.
Como agem?

Foram encontradas irregularidades no processo de produção e distribuição de combustíveis em todo o país. Importadores adquiriam nafta, hidrocarbonetos e diesel no exterior, usando recursos de distribuidoras vinculadas ao PCC. Entre 2020 e 2024, foram importados mais de R$ 10 bilhões em combustíveis pelos investigados.
Segundo a polícia, a importação irregular de metanol é investigada, uma vez que o produto foi desviado e transportado clandestinamente por meio de documentos falsos, ao invés de ser entregue aos destinatários indicados nas notas fiscais quando chegava ao Brasil pelo Porto de Paranaguá (PR). O produto vai para postos e distribuidoras, onde é utilizado para adulterar combustíveis.
Fintechs e lavagem de dinheiro

As transações financeiras são realizadas por fintechs controladas pelo crime organizado com clientes do setor de combustíveis, o que dificulta o rastreamento dos recursos, já que não usam bancos tradicionais. Segundo a Receita Federal, somente uma dessas fintechs movimentou mais de R$ 46 bilhões de 2020 a 2024. Já entre 2022 e 2023, foram efetuados mais de 10,9 mil depósitos em espécie na fintech, totalizando mais de R$ 61 milhões.
Auditores-fiscais da Receita Federal identificaram irregularidades em mais de mil postos de combustíveis distribuídos em 10 estados: São Paulo, Bahia, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Maranhão, Piauí, Rio de Janeiro e Tocantins. Esses postos recebiam dinheiro em espécie ou via máquinas de cartão e tinham a função de transferir dinheiro para a organização criminosa.
Entre 2020 e 2024, a movimentação financeira desses postos foi de R$ 52 bilhões, com recolhimento de tributos baixo e incompatível com suas atividades. Os postos já foram autuados pela Receita Federal em mais de R$ 891 milhões.
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