Goiânia é uma das cidades confirmadas na Marcha “Levante Mulheres Vivas!”, uma mobilização nacional contra o feminicídio e aos diversos tipos de violência contra as mulheres. A contração vai vai ser realizada na Praça Universitária, a partir das 15h. De lá, as manifestantes pretendem seguir até a Delegacia Estadual de Atendimento Especializado à Mulher (Deaem). O objetivo é reforçar a mensagem de que feminicídio não é destino, não é ‘crime passional’, não é tragédia isolada. É violência estrutural e precisa ter fim.

De acordo com a advogada feminista, Kelly Cristina, que também é coordenadora estadual da articulação de mulheres brasileiras em Goiás, o “Levante Mulheres Vivas” em Goiânia está sendo realizado devido à grave epidemia de violência contra às mulheres e pelo fim do feminicídio. 

“O ato ‘Mulheres Vivas’ tem enorme relevância, pois reage contra a naturalização do assassinato de mulheres e do feminicídio. Se posicionando pela prevenção e o enfrentamento à toda forma de violência, misoginia, crimes de ódio e desumanização das mulheres”, explica Kelly Cristina.

Ainda de acordo com a coordenadora, a principal pauta da manifestação é a exigência de respostas do Estado Brasileiro por políticas públicas eficazes. “Apesar do compromisso do Governo Federal com a recriação do Ministério das Mulheres, a realização de campanhas nacionais e o aumento dos recursos para a política para as mulheres, ainda é baixo o comprometimento dos governos estaduais e municipais com as políticas para as mulheres”, desabafa.

Segundo a professora, Ursula Conrado, que também está entre as lideranças do ato em Goiânia, mais de 30 cidades brasileiras estão participando. “A expectativa para esse levante é reunirmos nossa força, nossa voz, para chamarmos atenção para o absurdo que estamos vivendo. […] Essa é uma luta de todos, contra uma sociedade em que a mulher é apagada, objetificada, abusada e desvalorizada”, complementa.

Marcha das Mulheres Negras ocorrida no último dia 25 de novembro em Brasília | Foto: Reprodução

Seguimos firmes, com coragem, porque merecemos existir sem medo. A força coletiva nos move e a vida das mulheres é um compromisso político. Não aceitaremos que o Estado trate a violência de gênero como estatística, nem que a sociedade normalize o feminicídio como parte da cultura”, enfatiza a professora.

Violência em Goiás

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, Goiás tem três cidades entre as 20 com mais casos de estupro no Brasil.  O Estado ainda configura um com os mais altos índices de violência contra as mulheres e se destaca no ranking nacional de violência doméstica, ocupando o 6º lugar.

De acordo com a advogada feminista, Kelly Cristina, Goiás recebeu, somente em 2024, R$ 4,11 milhões para as ações de enfrentamento à violência contra a mulher. E outro R$ 32,91 milhões repassados para ações de redução de mortes violentas intencionais. Mas, conforme as estatísticas, permanece como uma das unidades federativas mais letais e inseguras para as meninas e mulheres.

Kelly Cristina conclama toda a sociedade para o enfrentamento e a prevenção da violência contra as mulheres e o feminicídio. “A brutalização dos nossos corpos e de nossa vida fere todo o tecido social. Não é possível avançar na garantia de direitos e assegurar a dignidade da pessoa humana, sem uma reação organizada e permanente do Estado, da sociedade civil e das instituições democráticas”.

“Reivindicamos políticas públicas eficazes, orçamento real, proteção imediata e um sistema de justiça que funcione para todas — especialmente, para as mulheres negras, pobres, indígenas, quilombolas e periféricas, que são as mais atingidas. Nossa luta é contra o machismo estrutural, que atravessa instituições, discursos e práticas cotidianas”, afirma Ursula Conrado.

Lei 14.994

Na última terça, 2, Senado Federal aprovou que o feminicídio agora tem pena máxima de 40 anos de prisão.

Mulheres bioma marcham em Brasília pelo fim da violência de gênero | Foto: Reprodução

A Lei 14.994, de 2024, aumentou a pena para os condenados pelo crime de feminicídio, que passou a ser de 20 a 40 anos de prisão, maior do que a incidente sobre o de homicídio qualificado (12 a 30 anos de reclusão).

Dentre as pautas do “Levante Mulheres Vivas” estão o fortalecimento da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminicídio, a ampliação de casas-abrigo e centros de acolhimento, a educação de gênero nas escolas e, também, campanhas permanentes de conscientização, não somente em datas como: 8 de Março (Dia Internacional das Mulheres) ou 25 de Novembro (Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres), mas durante todo o ano. Também é pautado a luta contra a misoginia online e violência digital e por dados mais confiáveis e transparência, para que efetivamente seja formuladas políticas públicas eficazes.

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