O pastor Silas Malafaia reagiu, neste domingo, 26, à reportagem do jornal O Globo que revelou o papel de seu genro, Anderson Silveira, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), na coordenação de um programa de R$ 14 milhões financiado por emendas parlamentares. Em publicação no X (antigo Twitter), Malafaia afirmou que o jornal usou seu nome para “denegrir” a notícia, verbo de origem racista, segundo linguistas, por associar “escurecer” a “difamar”.

Casado com uma das filhas de Malafaia, Anderson Silveira é hoje o principal captador de emendas parlamentares da UFRRJ. Ele coordena o Programa Esporte Para a Vida Toda (Previt), financiado pelo Ministério do Esporte, com orçamento de R$ 14 milhões, mais que o dobro do segundo maior projeto da instituição.

A investigação mostra que o programa distribui R$ 11,7 milhões em bolsas, sendo R$ 7 milhões para pessoas de fora da universidade. O Previt prevê 75 núcleos esportivos em mais de 20 municípios do Rio de Janeiro, com 14 funcionando dentro de igrejas, a maioria evangélicas, e participação de pastores nas atividades.

O projeto foi financiado por meio de um Termo de Execução Descentralizada do Ministério do Esporte, o que, segundo O Globo, dificulta rastrear os parlamentares responsáveis pela liberação das verbas. Deputados como Laura Carneiro (PSD-RJ), aliada do prefeito Eduardo Paes, e Roberto Monteiro (PL-RJ), ligado ao governador Cláudio Castro, aparecem como principais articuladores políticos.

Internamente, o volume de recursos e a distribuição de bolsas geraram crise na Fundação de Apoio da Rural (Fapur), que resultou em renúncia coletiva da diretoria em agosto. Em carta, os dirigentes alegaram que deixavam a função “com o sentimento de dever cumprido”, mas fontes da universidade afirmam que as divergências sobre o Previt foram o principal motivo da debandada.

Defesa e suspeitas de influência política

Silveira nega qualquer influência do sogro e afirma que os parlamentares apenas indicam regiões de atuação. Ele também disse que a Fapur teve “incapacidade” de gerir os recursos, o que levou o Ministério do Esporte a recomendar o aumento de bolsas e a redução na compra de equipamentos esportivos para evitar a devolução de verbas.

O professor argumenta ainda que “Malafaia nem sabe” de seu trabalho com emendas. “Os parlamentares não determinam, mas solicitam atenção a determinadas regiões. Às vezes fazem propaganda nos núcleos, mas isso está fora do nosso controle”, afirmou.

Apesar da negativa, o jornal identificou cabos eleitorais e aliados de deputados entre os contratados do projeto. Em Quatis e Resende, por exemplo, a supervisora Rosilene Gomes da Silva publicou agradecimentos à deputada Laura Carneiro nas redes sociais pelo funcionamento de aulas esportivas financiadas pelo Previt.

Em nota, Laura Carneiro reconheceu ter pleiteado os recursos, mas disse que “a execução administrativa e operacional ficou a cargo da UFRRJ”. Já o deputado Roberto Monteiro aparece em vídeos sendo citado por pastores como responsável por “trazer o projeto social” a comunidades de São Gonçalo.

Reação do pastor

Silas Malafaia classificou a reportagem como “jornalismo canalha” e prometeu responder judicialmente ao jornal. Ele afirmou que o caso é uma tentativa de associar sua imagem a irregularidades sem provas.

A UFRRJ afirmou, em nota, que o programa selecionou profissionais das comunidades atendidas “com base em formação e experiência”, negando qualquer critério pessoal ou religioso.

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