Nesta sexta-feira, 7, vieram à tona detalhes de uma operação que resultou na prisão de dois dos maiores caçadores de onça-pintada do país. A ação, conduzida pelo Batalhão de Polícia Militar de Operações Ambientais (BPMOA), ocorreu na terça-feira, 4, em São Miguel do Araguaia, Goiás, e mirou uma dupla que, segundo a corporação, era contratada por fazendeiros para abater felinos que se aproximavam de áreas de pastagem destinadas ao gado.

De acordo com o primeiro tenente Daniel Rodrigues, do BPMOA, os suspeitos – Orlando Tavares de Oliveira Júnior, de 37 anos, e Adair Adão Camargo, de 60 – são da própria região de São Miguel do Araguaia e prestavam serviços também em outros estados, como Mato Grosso. A identificação dos homens partiu de denúncias anônimas, que se transformaram em um inquérito de quatro meses conduzido pela corporação.

A operação encontrou os caçadores em uma propriedade rural. Com eles, estavam armas de fogo e uma presa de onça, usada, conforme a polícia, como espécie de troféu. Ao Jornal Opção, o primeiro tenente disse que “os caçadores eram contratados pelos fazendeiros para matar às onças e está aberta uma investigação nisso para descobrir os contratantes. Eles pagavam de 2 a 5 mil por cada onça”.

Entretanto, apesar da gravidade das ações, os dois homens foram liberados. Apenas um deles foi preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo, sendo liberado após pagamento de fiança. O outro não teve flagrante formalizado e responderá ao inquérito em liberdade. No total, a dupla recebeu multa administrativa de R$ 15 mil por animal abatido.

Além das sanções administrativas, ambos foram autuados por crime ambiental. Com os suspeitos, a polícia apreendeu duas armas legalizadas pertencentes à categoria de colecionadores, atiradores desportivos e caçadores (CACs), além de uma arma irregular.

Vídeos capturados pela polícia ambiental e posteriormente divulgados mostram a brutalidade da atividade ilegal: onças-pintadas abatidas com marcas de tiros, além de cães usados para cercar e atacar os felinos já caídos. 

Espécie ameaçada de extinção

Vale lembrar que a onça-pintada é uma espécie ameaçada de extinção. Ela desempenha papel importante na manutenção do equilíbrio ecológico, atuando como predador de topo na cadeia alimentar. Por isso, sua morte provoca desequilíbrios ambientais que repercutem no ecossistema como um todo. A região de São Miguel do Araguaia, onde a prisão ocorreu, é uma das principais áreas de ocorrência da espécie no Brasil, o que a torna alvo constante de caçadores ilegais.

Segundo o BPMOA, os envolvidos atuavam de maneira organizada, sendo chamados por fazendeiros quando felinos adentravam áreas de pasto. A prática, embora clandestina, é facilitada pela extensão das áreas rurais e pela dificuldade de monitoramento contínuo.

A investigação agora passa a concentrar esforços em identificar os contratantes. A suspeita é de que produtores rurais possam ter financiado a caça para proteger o rebanho bovino, apesar de existirem métodos legais de manejo e prevenção de conflitos com felinos. Se confirmada a participação dos fazendeiros, eles também podem ser responsabilizados por crime ambiental e sofrer penalidades administrativas.

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