Maduro é o principal responsável pela crise de refugiados, diz líder da oposição venezuelana
29 agosto 2018 às 18h32

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Tomás Guanipa falou com exclusividade ao Jornal Opção

Uma comissão da Assembleia Nacional da Venezuela se reuniu com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes (PSDB), na terça-feira (28/08), em Brasília, e, no dia seguinte, visitou Goiás, a convite de um dos coordenadores da campanha de Marconi Perillo (PSDB) ao Senado, Michel Magul.
Na pauta, fez-se presente a contenção da crise migratória e a “necessidade de aprofundar a pressão democrática dos países da região ao governo de Nicolás Maduro”, segundo Tomás Guanipa, secretário-geral do partido Primerio Justicia, fundado por Henrique Capriles, um dos principais líderes de oposição.
Acompanhado de Negal Manuel Morales Llovera e Julio César Reyes — secretário-geral e primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, respectivamente —, Guanipa concedeu uma entrevista exclusiva, conduzida em espanhol, ao Jornal Opção. Para ele, não há como resolver a crise de refugiados enquanto Maduro permanecer no poder.
Qual é o objetivo da visita ao Brasil e a Goiás?
Somos parte de uma comissão que representa a Assembleia Nacional da Venezuela, o único órgão democrático que ainda resta no país. Esta comissão foi criada para dar continuidade a um encontro de parlamentares de toda a América Latina que ocorreu em junho em Cúcuta, na Colômbia, para tratar do tema da Venezuela, com foco nos problemas da migração, deterioração democrática e corrupção.
Estamos percorrendo a América Latina para, entre outras coisas, manter vivo o tema da Venezuela na agenda de cada país. A viagem começou no Equador, depois fomos à Colômbia, Peru, Chile, Argentina, Uruguai, Brasil e, agora, vamos ao México, onde se encerrará.
No Brasil, tivemos um encontro com o chanceler, Aloysio Nunes. Pudemos conversar com ele sobre o que está acontecendo na Venezuela e a necessidade que temos de aprofundar a pressão democrática dos países da região ao governo de Nicolás Maduro. Pudemos, ainda, ter um encontro com o vice-presidente nacional do PSDB e candidato a senador, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo, para realçar os laços entre as instituições democráticas da Venezuela e do Brasil e para pedir que um eventual governo de seu partido tenha como prioridade a busca pela democracia em Venezuela.
Atualmente, há, no norte do Brasil, uma crise de refugiados. Para a oposição venezuelana, qual seria a solução deste problema?
A única forma de frear esta onda de mobilização de venezuelanos a outras partes do mundo é por meio de uma troca democrática do governo na Venezuela. O governo de Nicolás Maduro é o principal responsável pelo que está ocorrendo atualmente.
Lamentavelmente, há lugares que são emblemáticos, como Cúcuta e Roraima, que é um Estado muito pequeno, sem a capacidade para receber a quantidade de refugiados que está recebendo e, neste sentido, há que se pedir compreensão ao povo brasileiro e também que existam políticas migratórias que permitam a distribuição das pessoas que estão chegando a Roraima de tal forma que não haja um impacto tão alto.
Enquanto Nicolás Maduro for presidente, a população terá cada vez mais pressão para sair do país. Este é um problema que tem influência em toda a região e já não se restringe aos venezuelanos. Por isso, fazemos um chamado aos governos. A solução de tudo isso passa pela troca do governo.
O governo brasileiro está recebendo bem os venezuelanos que chegam a Roraima?
Não penso que se possa falar de um maltrato. O governo brasileiro tem tido a compreensão da crise que estamos vivendo na Venezuela. O Brasil é, constitucionalmente, um país que tem as portas abertas aos imigrantes.
A grande vítima é o povo venezuelano e é preciso ter cuidado com os protestos que podem ter características xenófobas. O que está acontecendo com os venezuelanos já aconteceu, em outras oportunidades, com brasileiros. Aloysio Nunes me disse que o Brasil se lembra com muito afeto a forma como os venezuelanos abriram as portas aos brasileiros quando houve ditadura aqui.
Compreendemos a situação pela qual estão passando os brasileiros em Roraima, mas asseguramos que estamos trabalhando para que haja uma mudança de governo na Venezuela a fim de que as pessoas que saíram possam regressar ao seu país.
Quais serão os próximos passos da oposição após esta viagem pela América Latina?
Voltaremos à Venezuela com o objetivo de informar ao Parlamento como foram nossos encontros e seguiremos organizando a oposição venezuelana. Organizaremos a população que está protestando nas ruas e seguiremos exercendo a pressão para que a mudança possa ocorrer efetivamente no país. Vamos nos preparar para poder relançar a unidade democrática a um povo que quer trocar o governo e viver em paz com democracia.
Recentemente, a oposição convocou uma greve, mas muitos trabalhadores não aderiram. Por que isso ocorreu?
A maioria dos comércios estava fechada. Mais de 60%. E isso com pouco tempo de divulgação. Foi um exercício para a preparação de uma greve geral. Articularemos protestos muito mais contundentes que o que pôde ser feito. Na nossa perspectiva, atendeu às expectativas. Somente em alguns centros urbanos houve normalidade pela pressão e chantagem feita pelo governo, que ameaça tomar os negócios dos comerciantes, caso deixem de abri-los. Na Venezuela, há uma repressão muito forte por parte do governo e temos que entender que o povo venezuelano está em um processo de resistência.
O que o sr. pensa sobre as medidas econômicas adotadas por Nicolás Maduro para conter a inflação?
São medidas desastrosas que ninguém consegue entender. Um presidente que decreta o aumento em 35 vezes do salário mínimo e que, além disso, segue atacando todos os que têm uma empresa privada é um presidente que está conspirando contra a possibilidade de termos uma economia saudável.
Nicolás Maduro não tem capacidade de solucionar o problema econômico do país, de ajudar os venezuelanos a resolver a crise pela qual estão passando. Portanto, não há medida econômica que ele possa tomar a fim de dar confiança ao mercado e tranquilidade à população venezuelana. Cada dia que ele continua no governo é um dia a mais que se aprofunda a crise econômica e pioria a qualidade de vida da população. Temos que mudar o governo, resgatar a democracia e, então, começar a direcionar a economia do país.
Muito se fala de um suposto apoio de outros países à oposição venezuelana. Apoio diplomático é praticamente notório que há, mas há também financeiro?
Não há nenhum apoio financeiro. Nem sequer há apoio à oposição. O que há é um apoio à democracia venezuelana, à liberdade de um povo que se defende. Há, sim, um apoio irrestrito dos países democráticos ao resgate da democracia na Venezuela. E nós somos defensores da democracia.
Uma prova de que não há e nunca houve apoio financeiro é a forma como viajamos, muitas vezes saindo pela fronteira ilegalmente porque o governo nos persegue. O que queremos não é apoio financeiro, mas sim apoio ao povo da Venezuela para que a liberdade seja reconquistada e para que a democracia volte a ser dominante em nossa pátria.