O prefeito de Goiânia Sandro Mabel (UB) promoveu na tarde desta quarta-feira, 20, um encontro com pessoas em situação de rua atendidas pela Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, Assistência Social e Direitos Humanos (Semasdh).

A reunião foi realizada no Salão Nobre do Paço Municipal. O objetivo, segundo a prefeitura, foi ouvir diretamente as demandas dessa população e discutir possíveis melhorias nas políticas públicas voltadas ao atendimento social.

O prefeito explicou que, além de dialogar com a população em situação de rua, já tem mantido reuniões com órgãos que integram a rede de atendimento social, como Ministério Público, Defensoria Pública, assistência social, saúde, direitos humanos e organizações sociais.

“Hoje, convidei vocês diretamente porque quero ouvir cada pessoa para que possamos avançar nas políticas sociais de forma conectada e eficiente”, afirmou.

Entre os compromissos apresentados, Mabel destacou a criação de um “centro de acolhimento ideal”, com estrutura física adequada, alimentação digna e apoio para que cada indivíduo possa retomar sua vida com autonomia.

“O que queremos é que vocês saiam da rua, tenham uma colocação, possam ter um emprego, um tratamento necessário e um lugar para morar. E isso será feito em etapas, com apoio social durante o processo”, disse Mabel.

O prefeito também mencionou parcerias já consolidadas, como com o Sindicato da Construção Civil, para geração de emprego, e com a educação de jovens e adultos, para quem deseja voltar a estudar. “Todos os dias cobro avanços, metas e planejamento para cumprir o compromisso com a dignidade de cada pessoa”, acrescentou.

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(Mabel durante o encontro | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção)

Moradores de rua levam suas demandas

Daniela Oliveira, moradora em situação de rua há mais de duas décadas, participou do encontro. A moradora relatou os desafios de passar tanto tempo nas ruas.

“Na rua eu devo ter uns 24 anos morando e é por isso que é fundamental manter cuidado, dar um emprego”, disse, enfatizando a necessidade de acompanhamento constante e soluções estruturadas para pessoas em situação de rua.

Rafael Ferreira, marido de Daniela, também compartilhou seu relato, destacando a importância do apoio recebido e da orientação para reconstruir sua vida.

Ele contou como começou a receber apoio depois de passar por dificuldades. “Eu cheguei a estar no fundo do poço na rua. Com apoio, eu vi que podia realizar meus sonhos, de mudar de vida”, afirmou.

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(O casal Rafael Ferreira e Daniela Oliveira | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção)

Outra moradora em situação de rua, Jozi Caroline compartilhou sua experiência pessoal, destacando os obstáculos que enfrenta para retomar sua vida e manter um emprego.

“Eu tenho um problema no braço depois que sofri uma tentativa de feminicídio. Eu não consigo manter o emprego, porque está piorando”, disse Jozi, explicando que uma condição de saúde tem dificultado sua reinserção no mercado de trabalho.

A moradora relatou ainda um histórico de infecções e complicações de saúde, que a fizeram buscar apoio e cuidados médicos. “Quando eu sofri uma infecção no interior de Goiás, eu só busquei um lugar onde eu me sentisse um pouco mais segura. Agora que estou aqui, espero conseguir melhorar minha condição”, afirmou.

Jozi também destacou a importância do acompanhamento social. “Depois que a gente chega em um ponto difícil, é importante encontrar alguém para levantar e falar: ‘vou te ajudar’. Isso dá consciência e esperança”, comentou.

(Jozi Caroline | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção)

Fábio da Silva, outra pessoa em situação de rua, destacou sua disposição em se reinserir no mercado de trabalho. “Se aparecer um serviço, eu quero trabalhar. Eu quero sair da rua, quero melhorar a situação, melhorar o ciclo. Eu quero trabalhar bem, melhorar a minha situação”, afirmou.

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(Fábio da Silva | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção)

Outro homem que tem vivido nas ruas é Israel Dias. Assim como os outros que foram ao encontro, ele também pediu apoio, oportunidades e levou suas demandas. Mas também fez um apelo a mais.

“Queria agradecer o encontro, as oportunidades, mas também queria falar uma coisa. Não é todo mundo que está nas ruas que é bandido. Eu já apanhei apenas por estar dormindo na 44 e fui acordado a pontapés. Tem gente que está querendo sair, precisando de oportunidade, e eu sou uma delas”, afirmou.

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(Israel Dias | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção)

Dia de luta pelos direitos da pessoa em situação de rua

A atividade faz parte de um conjunto de ações relacionadas ao Dia Nacional de Luta pelos Direitos da Pessoa em Situação de Rua, celebrado em 19 de agosto. A data foi instituída para reforçar a visibilidade e a garantia de direitos dessa parcela da população.

A secretária da Semasdh Eerizania Freitas afirmou ao Jornal Opção que a data reforça a necessidade de consolidar ações estruturadas e contínuas. Ela também revelou que a gestão prepara o lançamento de um programa municipal específico para atendimento às pessoas em situação de rua.

A iniciativa, segundo ela, será construída a partir do diálogo direto com essa população, como o que ocorreu no encontro. “O prefeito me pediu para convidar essas pessoas, porque ele quer ouvi-las. É ouvir diretamente quem vive essa realidade”, explicou.

“Foi por isso que o Sandro Mabel trouxe essas pessoas para um café no Paço. Ele quer entender quais são os anseios delas: se é emprego, se é concluir os estudos, retornar para o município de origem, se é moradia ou tratamento de saúde mental”, continuou Eerizania.

De acordo com a secretária, a escuta servirá de base para estruturar a nova política municipal. “O programa vai ter um leque de possibilidades, para que essas pessoas possam ser encaminhadas e, de fato, deixarem essa condição indigna de viver nas ruas. Cada demanda apresentada será respeitada e direcionada”, disse.

Questionada sobre os obstáculos enfrentados hoje pela secretaria, a gestora destacou a dificuldade em manter o acompanhamento das pessoas em situação de rua.

“Nosso grande desafio é fazer com que essas pessoas tenham assiduidade aos compromissos, seja no CAPS, no Centro POP ou no acompanhamento da assistência social. Muitas vezes não conseguimos sequer localizar a pessoa para dar continuidade ao tratamento e ao suporte social”, afirmou.

Ela citou ainda a saúde mental e a dependência de substâncias psicoativas como barreiras centrais para a reintegração social. “Tratando da saúde mental e da dependência, conseguiremos fazer com que essas pessoas tenham vínculo empregatício e de moradia”, concluiu.

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(Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção)

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