Em entrevista ao The New York Times publicada nesta quarta-feira, 30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom contra a decisão do governo norte-americano de impor uma tarifa recorde de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, oficializada no mesmo dia por um decreto assinado por Donald Trump, entra em vigor nesta sexta-feira, 1º, e coloca o Brasil como o país mais penalizado pelos Estados Unidos no comércio internacional.

“Estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência”, afirmou Lula. “Trato todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito.”

A justificativa da Casa Branca para a sanção inclui acusações de violação de liberdades civis, prejuízo a empresas americanas e uma suposta ameaça à segurança nacional dos EUA. Trump ainda declarou uma nova emergência nacional para amparar legalmente as tarifas, com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA), de 1977.

O governo americano citou ações do Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente do ministro Alexandre de Moraes, como justificativa para a retaliação. O decreto menciona “centenas de ordens de censura”, além da suposta intimidação de executivos de big techs e processos contra Jair Bolsonaro e aliados, o que, segundo Trump, caracterizaria “grave violação de direitos humanos”.

Lula afirmou que “talvez Trump não saiba que aqui no Brasil o Judiciário é independente”. O presidente também alertou para o impacto da medida no bolso dos consumidores americanos, que devem enfrentar aumento no preço de produtos como carne, café e suco de laranja.

Apesar do endurecimento da retórica, o governo brasileiro mantém aberta a possibilidade de negociação e mira na figura de Jamieson Greer, representante comercial da Casa Branca e peça central na articulação de acordos internacionais da gestão Trump. Fontes diplomáticas apontam Greer como o nome com maior autonomia para costurar uma reaproximação. O vice-presidente Geraldo Alckmin já se reuniu com o secretário de Comércio, Howard Lutnick, mas é Greer quem lidera o núcleo duro da política comercial externa.

Nos bastidores, o Itamaraty cogita uma visita do chanceler Mauro Vieira a Washington, caso haja um convite formal. A missão diplomática incluiria temas como regulação de plataformas digitais, exploração de minerais críticos (como nióbio e lítio) e a redução de barreiras alfandegárias.

No entanto, um ponto sensível atrasa o avanço das tratativas: a insistência do governo Trump em atrelar qualquer reaproximação ao julgamento de Jair Bolsonaro. Para o Planalto, isso é inaceitável. Interlocutores próximos de Lula afirmam que qualquer conversa entre os presidentes exigiria preparação minuciosa para evitar desgaste político ou novos episódios de tensão diplomática.

Desde março, Brasil e EUA vinham discutindo questões tarifárias relacionadas ao aço, alumínio e manufaturados. Mas a guinada veio em julho, com o anúncio unilateral da tarifa de 50% sobre toda a pauta de exportação brasileira.

A escalada é lida por diplomatas como um movimento com forte conotação eleitoral. Trump intensifica o discurso contra o Brasil para mobilizar sua base, ao mesmo tempo em que transforma sua política externa em vitrine ideológica. Lula, por sua vez, tenta manter a compostura institucional, mas demonstra crescente impaciência com a tentativa americana de politizar a relação bilateral.

“Reconhecemos o poder econômico, militar e tecnológico dos Estados Unidos. Mas isso não nos dá medo, isso nos causa preocupação”, declarou o presidente. “O Brasil não negocia como um país pequeno diante de um país grande.”

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