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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou neste domingo, 14, um artigo no jornal norte-americano The New York Times direcionado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No texto, Lula afirmou que o Brasil está aberto ao diálogo, mas destacou que “soberania e democracia são inegociáveis”.

“Presidente Trump, continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta”, escreveu, em tradução livre.

Críticas ao tarifaço

O artigo foi publicado pouco mais de dois meses após Trump impor tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, em vigor desde 6 de agosto, com algumas exceções. À época, o republicano justificou a medida alegando que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) era “uma vergonha internacional”.

Lula rebateu no artigo, defendendo a atuação do STF e afirmando que a condenação de Bolsonaro e de outros envolvidos na tentativa de golpe de 2022 foi resultado de investigações conduzidas em conformidade com a Constituição de 1988.

“Não se tratou de uma ‘caça às bruxas’”, escreveu. Segundo o presidente, os processos revelaram planos de assassinato contra ele, o vice-presidente e um ministro do Supremo, além da elaboração de um decreto para anular as eleições.

Big techs e regulação digital

Lula também criticou acusações feitas pela Casa Branca de que o Brasil persegue ou censura empresas de tecnologia norte-americanas.

“Essas alegações são falsas. Todas as plataformas digitais, sejam nacionais ou estrangeiras, estão sujeitas às mesmas leis no Brasil”, disse.

Ele argumentou que a regulação do setor é necessária para proteger famílias de fraudes, desinformação e crimes virtuais: “A internet não pode ser uma terra sem lei”.

Defesa do PIX

Outro ponto abordado foi a investigação aberta pelo governo dos EUA contra o sistema de pagamentos instantâneos brasileiro, sob alegação de que prejudicaria empresas americanas. Lula reagiu afirmando que o PIX promoveu inclusão financeira de milhões de cidadãos e empresas, sem prejudicar concorrentes.
“Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que estimula a economia”, defendeu.

Meio ambiente em foco

Em resposta às críticas de Washington sobre a aplicação de leis ambientais, Lula destacou que o Brasil reduziu o desmatamento na Amazônia em 50% nos últimos dois anos e intensificou operações contra crimes ambientais.

Entretanto, alertou que o futuro da floresta também depende da ação internacional: “A Amazônia continuará em risco se outros países não fizerem sua parte para reduzir emissões. O aumento das temperaturas globais pode transformar a floresta em savana, alterando regimes de chuvas em todo o hemisfério, inclusive no Meio-Oeste americano”.

Cooperação e respeito mútuo

O petista encerrou o artigo reforçando a necessidade de cooperação baseada no respeito: “Vejo a relação entre Brasil e Estados Unidos como a de duas grandes nações capazes de se respeitarem mutuamente e cooperarem para o bem de brasileiros e americanos”.