Joveny Cândido, o professor que dava aula armado e impediu violência contra alunos

05 agosto 2025 às 17h10

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Nilson Gomes-Carneiro
Especial para o Jornal Opção
O professor dá os primeiros passos na sala, o barulho vai diminuindo. Quando chega ao meio, reina o silêncio. Mais que sua altura ou eventual poder que desperte, ali está o regente, o que sabe mais que a turma. No caso do protagonista do livro “Lutar pela Pátria é Viver com Razão” (editora Britz Lopes), sabe muito mais que qualquer turma. Seu nome é Joveny Cândido de Oliveira, conhecido atualmente por ter um cartório na rua que dá acesso ao mais famoso shopping de Goiânia. Porém, há muito mais a saber desse personagem.
Nesta terça-feira, 5 de agosto, a partir das 19h, na Escola Superior de Advocacia (Rua 101, 123, Setor Sul), será lançada a obra que o disseca. Escrita por um ex-aluno, o jornalista e advogado Marcio Fernandes, a briografia (neologismo antagônico a hagiografia) conta sobre sua vida desde antes de ela existir. Marcio esteve na terra dos antepassados de Joveny, em Portugal, e reporta as passagens pelo Norte do país europeu até chegarem ao Centro-Oeste do Brasil, mais precisamente ao Sudeste de Goiás.
Logo no início, o autor mostra que faltou às aulas de elogio, ao delimitar que o livro “conta a história completa que o biografado se propôs a revelar”. Mesmo assim, é bastante coisa. Os participantes da política nacional têm Joveny como um pensador de direita e foi nessa condição que estreou como professor num comitê da esquerda, a Universidade Federal de Goiás à época do regime militar. Leitor do filósofo italiano Antônio Gramsci, que os vermelhinhos recitam imediatamente após se depararem com algumas frases, Joveny foi oficial do Exército, apoiou o golpe dos generais sobre o presidente João Goulart, dava aula com uma arma escondida sob a perna da calça, até que uma hora o bicho-papão bateu à porta da sala.

Marcio conta que a Polícia Militar chegou à UFG correndo, após dispersar um fuzuê, quando “estudantes do PCdoB e da Libelu [Liberdade e Luta, uma célula de comunistas] se refugiaram na Faculdade de Direito da UFG, no setor Universitário, em Goiânia. Uns socialistas escondidos, outros com sebo nas canelas, decretaram pernas pra que te quero. Quem ficou na defesa dos alunos? Aquele narigudão da direita: “Joveny foi o único membro do corpo docente a se posicionar na porta da escola. Disse ao comandante da tropa que não permitiria a ocupação da faculdade. E comunicou aos manifestantes apurados que não admitiria baderna no interior da instituição”.
O termo narrativa ainda estava longe de entrar na moda, porém a esquerda já o dominava. A coragem ausente nos bravos que se acovardaram com os fardados sobrou para espalhar o contrário do acontecido. Joveny se acostumou à injustiça. Seu negócio, mais que as atividades no cartório da família, era repassar conhecimento. O autor deste texto, como o do livro, também foi seu aluno. E testemunho: ele era o símbolo da democracia. Dava a palavra até para quem não tinha o que falar. Militante de partidos liberais, Joveny participa da política nacional desde muito jovem.
Sua vocação era para o magistério, mandato nunca teve porque jamais quis. O pai, João Cândido de Oliveira, chegou a deputado estadual. Sua mãe, Maria José, foi vereadora em Goiânia por quatro mandatos. Mas o poder do filho, hoje com 88 anos, sempre foi maior, pois na hierarquia da retórica prática a cátedra supera a tribuna.
Estudei com ele a mesma matéria que ensinou a Marcio Fernandes, Direito Internacional Público. Foram meus colegas políticos como o ex-vereador Iram Saraiva Júnior, o falecido deputado federal José Gomes da Rocha (que foi também prefeito de Itumbiara), a deputada estadual Cleuzita de Assis, o ex-deputado federal e ex-vereador Sandes Júnior e uma chusma de outros submetidos às urnas. Dezenas que hoje são juízes de direito, promotores de justiça, delegados de política, defensores públicos e advogados. E o respeito era absoluto ao mestre, ícone do aprendizado. Debatia-se com ele, mas apenas para sorver mais de sua sabedoria, até porque àquela época, final dos anos 1980, começo dos 90, já não andava mais com arma na meia.
Nilson Gomes-Carneiro, jornalista e advogado, é colaborador do Jornal Opção.