Javaporcos com carne azul neon expõem risco ambiental grave e perigo à população

22 agosto 2025 às 14h52

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Uma descoberta acendeu alertas sanitários e ambientais na Califórnia: javaporcos abatidos na região de Salinas, no condado de Monterey, apresentaram carne e gordura com coloração azul neon. O fenômeno, que inicialmente parecia estranho, foi confirmado como resultado da contaminação por rodenticida.
O especialista em controle de fauna Dan Burton foi o primeiro a registrar o caso, em março deste ano. “Não estou falando de um pouco de azul. Era azul neon, azul mirtilo. Uma loucura”, disse ao Los Angeles Times. Ao acionar o Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW), ele ajudou a revelar um problema de maior dimensão.
Exames laboratoriais realizados pelo CDFW e pelo Laboratório de Saúde Animal e Segurança Alimentar da Califórnia, em Davis, identificaram a substância: a difacinona, um anticoagulante usado em áreas agrícolas para controle de roedores. O produto é tingido de azul propositalmente para alertar seres humanos, mas animais silvestres não reconhecem esse sinal.
Embora as doses sejam fatais para pequenos roedores, não são suficientes para matar imediatamente javaporcos, que podem pesar de 45 a 90 quilos. O veneno, no entanto, permanece ativo nos tecidos, mesmo após o cozimento, representando risco tanto para predadores quanto para consumo humano.
O rodenticida atua bloqueando enzimas ligadas à reciclagem da vitamina K, o que provoca hemorragias internas e fragiliza os animais, tornando-os presas fáceis. Segundo o CDFW, a exposição prolongada amplia os riscos para a fauna local.
Estudos anteriores já haviam apontado a presença da substância: em 2018, 8,3% dos javaporcos analisados no Estado tinham traços do veneno, assim como 83% dos ursos avaliados em regiões de maior uso agrícola.
Restrição e alerta
O uso de difacinona foi restringido na Califórnia desde 2024 e hoje é permitido apenas a técnicos certificados. Ainda assim, resíduos continuam sendo identificados. Para as autoridades, mesmo javaporcos sem coloração azul podem estar contaminados.
O CDFW recomenda cautela a caçadores e agricultores. A orientação é que toda carne de caça seja inspecionada e que sejam priorizadas práticas de manejo integrado de pragas, como uso de cercas, armadilhas e predadores naturais.
“O episódio mostra até onde podem chegar os efeitos imprevistos dos produtos químicos agrícolas, inclusive em espécies que não eram o alvo original do veneno”, afirmou Ryan Bourbour, pesquisador do CDFW.
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