Indústria do café prevê alta de até 15% nos preços, mas consumo interno segue em queda

26 setembro 2025 às 17h11

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A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) informou nesta quarta-feira, 24, em coletiva realizada em São Paulo, que os valores podem subir entre 10% e 15% nos supermercados, reflexo da alta nos custos da matéria-prima. Segundo o presidente da entidade, Pavel Cardoso, o aumento já vinha sendo negociado com o varejo desde o início do mês, mas só deve ser repassado ao consumidor a partir da próxima semana. “O reajuste não deve ser superior à média do ano”, disse.
O diretor-executivo da Abic, Celírio Inácio da Silva, detalhou que a pressão sobre os preços se concentra no curto prazo. “O varejo só foi às compras agora, a partir do dia 15. Acreditamos que, já na virada do mês, o novo preço esteja nas prateleiras, com repasse de 10% a 15%”, explicou.
Os sucessivos aumentos de preços em 2025 impactaram o consumo interno. De janeiro a agosto, as vendas caíram 5,41% em relação ao mesmo período de 2024 — recuo de 10,11 milhões para 9,56 milhões de sacas, de acordo com os dados divulgados pela Abic.
Entre os produtos mais afetados pela volatilidade está o café solúvel, que acumulou alta de até 50,59%. Ainda assim, a entidade projeta encerrar 2025 em patamar semelhante ao do ano anterior. “Os números preliminares de setembro indicam uma recuperação no consumo, o que pode trazer boas notícias no fechamento do ano”, avaliou Cardoso.
Tarifaço e incertezas externas
Outro fator que preocupa a indústria é a política comercial norte-americana. Os Estados Unidos são os maiores compradores do café brasileiro, mas o produto entrou no pacote de sobretaxas imposto por Donald Trump contra exportações do Brasil, em meio às pressões políticas ligadas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Cardoso ressaltou, porém, que há expectativa positiva após uma ordem executiva publicada em 6 de setembro, que pode zerar a tarifa sobre o café. “Os Estados Unidos não produzem café em escala — apenas em pequenas áreas no Havaí e em Porto Rico. Por isso, acreditamos que o produto não será tarifado”, afirmou.
A Abic também acompanha a possível reunião entre Trump e Lula na próxima semana. Para a entidade, a pauta do café deve ter peso relevante nas negociações comerciais, ao lado do setor de carnes.
Apesar do alerta da indústria para o repasse imediato ao consumidor, o mercado internacional registrou queda nos preços do grão. Estudo divulgado pelo Cepea/Esalq/USP aponta que, entre 15 e 22 de setembro, o café arábica tipo 6 caiu 10,2% em São Paulo, enquanto o robusta recuou 11,1%.
De acordo com o levantamento, a retração foi impulsionada pela expectativa de chuvas mais fortes nas regiões produtoras brasileiras, pela realização de lucros na Bolsa de Nova York e pela perspectiva de retirada das tarifas americanas.
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