Hamas avalia plano de Trump para Gaza, mas critica parcialidade em favor de Israel

30 setembro 2025 às 14h44

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O Hamas iniciou nesta terça-feira, 30, uma rodada de consultas com mediadores do Catar e da Turquia para analisar o plano de paz proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, destinado a encerrar a guerra em Gaza. Apesar da disposição em discutir, integrantes do grupo palestino adiantaram à agência Reuters que o documento é “completamente parcial em favor de Israel” e contém “condições impossíveis”, cujo objetivo seria a eliminação do movimento islâmico.
“O que Trump propôs é a adoção total de todas as condições israelenses, que não concedem ao povo palestino ou aos moradores da Faixa de Gaza quaisquer direitos legítimos”, disse uma autoridade palestina sob anonimato.
Segundo fontes ligadas ao Hamas, ainda não está definido se o grupo rejeitará o plano. Uma negativa imediata poderia colocar o movimento em rota de colisão com países árabes e muçulmanos que já endossaram a proposta. A avaliação, portanto, deve se estender por alguns dias, dificultada ainda pela interrupção das comunicações após um ataque israelense em Doha contra lideranças do Hamas.
O Ministério das Relações Exteriores do Catar confirmou que representantes locais e turcos vão se reunir com o grupo palestino para discutir o plano “com responsabilidade”.
Netanyahu coloca freios
Enquanto o Hamas sinaliza cautela, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reforçou que não aceitará a criação de um Estado palestino, mesmo após o anúncio feito na Casa Branca. Em mensagem no Telegram, Netanyahu afirmou que as Forças de Defesa de Israel (IDF) permanecerão em “grande parte” do território ocupado e destacou que o plano de Trump apenas pressiona o Hamas a aceitar as condições impostas por Tel Aviv.
“Somos firmemente contra um Estado palestino. O presidente Trump também disse que entende nossa posição. Tal medida seria uma enorme recompensa ao terrorismo e um perigo para o Estado de Israel”, disse.
O que prevê a proposta de Trump
O plano de 20 pontos apresentado por Trump busca encerrar a guerra que já deixou mais de 66 mil palestinos mortos, entre eles 147 crianças vítimas de fome. Os principais eixos incluem:
- Libertação de reféns e retirada gradual de tropas israelenses: o Hamas teria 72 horas para entregar os sequestrados, vivos ou mortos, enquanto Israel iniciaria uma retirada escalonada.
- Troca de prisioneiros: libertação de 250 palestinos condenados à prisão perpétua e de 1.700 moradores de Gaza detidos após 7 de outubro de 2023. Para cada refém morto devolvido, Israel entregaria os restos mortais de 15 palestinos.
- Ajuda humanitária imediata: entrada de alimentos, medicamentos, equipamentos e reabilitação de hospitais e infraestrutura, sob supervisão da ONU e do Crescente Vermelho.
- Fim da ocupação militar: Israel não anexaria Gaza, retirando suas tropas em prazos vinculados à desmilitarização.
- Desradicalização e governo de transição: criação de um “Conselho da Paz”, liderado por Trump, para administrar Gaza até que a Autoridade Palestina passe por reformas e reassuma o controle.
- Reconstrução econômica: investimentos internacionais, criação de uma zona econômica especial e projetos de modernização.
- Anistia e saída segura para membros do Hamas que aceitarem depor armas ou deixar Gaza.
- Desmilitarização total: destruição permanente de túneis, fábricas de armas e outras estruturas, sob monitoramento internacional.
- Possível caminho para a criação de um Estado palestino, mas sem prazos ou garantias imediatas.
Enquanto Trump tenta se colocar como mediador central, o Hamas vê no plano uma tentativa de impor a agenda israelense, e Israel já antecipa que não abrirá mão de manter forte presença militar em Gaza. A expectativa é de que as próximas reuniões entre o grupo palestino e os mediadores definam se haverá espaço para negociação ou se a proposta nascerá sem consenso.
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