Governo de Goiás lança força-tarefa permanente contra bebidas adulteradas com metanol; entenda

02 outubro 2025 às 17h36

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O Governo de Goiás deflagrou, nesta quinta-feira, 2, uma força-tarefa com o objetivo de fiscalizar bares, distribuidoras e casas noturnas em todo o estado. A medida ocorre após a morte de consumidores e dezenas de internações em outros estados, ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, substância altamente tóxica e potencialmente letal.
Embora Goiás ainda não tenha registros oficiais de casos, o governador Ronaldo Caiado (UB) determinou que as ações fossem desencadeadas de forma imediata. O decreto de atuação foi transmitido durante viagem, em ligação direta com secretários e comandantes das forças policiais.
“Quero tranquilizar a população de Goiás que não tivemos nenhum caso, mas determinei hoje uma grande operação com todas as forças policiais e também a Secretaria de Saúde. Vamos vistoriar distribuidoras em todo o território para acautelar a população contra esse crime, que infelizmente ainda acontece nos dias de hoje”, disse Caiado.
Estrutura da operação
A ação é coordenada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde (SES) e envolve quatro frentes:
- Segurança pública – com a Polícia Militar, garantindo suporte às equipes em campo;
- Investigação criminal – conduzida pela Polícia Civil, especialmente pela Delegacia Estadual do Consumidor (Decon), responsável por instaurar inquéritos quando houver indícios de adulteração;
- Análise científica – sob responsabilidade da Polícia Técnico-Científica, que coletará amostras e realizará perícias laboratoriais;
- Fiscalização administrativa e sanitária – liderada pelo Procon Goiás e pelas vigilâncias sanitárias estadual e municipais.
O subsecretário de Segurança Pública, Gustavo Ferreira, enfatizou que o caráter é permanente e preventivo. “A operação se inicia hoje e não tem prazo para terminar. Já estamos nas ruas de Goiânia, vamos avançar para a região metropolitana no fim de semana e, a partir da semana que vem, alcançar o interior. O cronograma exato não é divulgado para manter o efeito surpresa”, disse.
O secretário de Segurança Pública, coronel Renato Brum, deixou claro que a ação tem dois pilares: orientar comerciantes e punir responsáveis por adulteração. “Nosso objetivo inicial é educativo, mas se encontrarmos falsificação ou adulteração, vamos agir com firmeza. O Código Penal prevê pena de quatro a oito anos para esse tipo de crime, equiparado a hediondo. Não vamos tolerar negligência”, disse.
Segundo o delegado-geral adjunto, Murilo Pollatti, os comerciantes terão de assumir responsabilidade sobre o que vendem. “Não poderão alegar desconhecimento. Se venderem bebida adulterada, responderão criminalmente, mesmo que não haja dolo, mas por culpa. E se essa venda resultar em lesão corporal ou morte, poderão responder por homicídio”.
O superintendente do Procon Goiás, Marco Aurélio Xavier, destacou ainda os sinais práticos de falsificação que podem ser observados. “Rótulos borrados, selos que se soltam facilmente, tampas reaproveitadas e bebidas turvas devem ser indícios de suspeita. O comerciante que identificar produtos nessas condições deve acionar imediatamente os órgãos de fiscalização. Não adianta jogar fora: precisamos rastrear a origem para responsabilizar os criminosos”, disse.
Saúde
O secretário de Saúde, Rasível Santos, informou que o Ministério da Saúde já contabiliza 43 casos suspeitos em todo o Brasil, com oito mortes confirmadas ou em investigação. Goiás, até o momento, não possui notificações.
“O perigo do metanol é que ele se confunde com o álcool comum, mas sua toxicidade é altíssima. Os sintomas começam semelhantes à embriaguez, mas rapidamente evoluem para visão turva, dor abdominal, convulsões, coma e até óbito. A população deve procurar imediatamente um hospital se houver suspeita”, afirmou Rasível.
Para preparar a rede, a subsecretária de Vigilância em Saúde, Flúvia Amorim, anunciou a emissão de nota técnica com protocolos de atendimento. “Queremos que todos os hospitais – públicos, privados e filantrópicos – saibam identificar rapidamente os sinais clínicos e adotar a conduta adequada. Também estamos elaborando cartilhas para comerciantes e para a população”, disse.
No Brasil, o antídoto mais utilizado é o etanol absoluto (99,9%), administrado em ambiente hospitalar. Outra opção é o fomepisol, mas o medicamento não possui registro na Anvisa. “Já estamos em busca de estoques de etanol absoluto em ampolas para deixar o sistema preparado caso tenhamos ocorrências”, explicou Rasível.
Investigação científica
O perito criminal Ricardo Matos, Superintendente da Polícia Técnico-Científica, explicou que a detecção do metanol exige exames laboratoriais detalhados. “Não existe teste rápido em campo. O processo envolve coleta de amostras, filtragem preliminar e envio ao laboratório. Os laudos definitivos levam de 10 a 15 dias, mas falsificações mais simples podem ser constatadas em menos tempo. É um trabalho criterioso para garantir resultados robustos e juridicamente válidos”, disse.
Recomendações
Enquanto a fiscalização avança, a recomendação das autoridades é: consumir bebidas apenas em estabelecimentos de confiança e verificar a procedência de rótulos e selos. Alguns restaurantes em São Paulo, por precaução, suspenderam temporariamente a venda de destilados.
“Não queremos pânico, mas sim prevenção. A imprensa tem papel fundamental para conscientizar a sociedade. Nossa missão é proteger vidas e garantir que tragédias como as que ocorreram em outros estados não se repitam aqui”, completou o secretário Renato Brum.
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