Governo Caiado demora a iniciar articulações políticas

10 abril 2019 às 09h16

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Governador tem se concentrado em conseguir verbas federais e perde potenciais aliados dentro do estado pela falta de diálogo

A base aliada
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Na marca dos cem dias no poder, o governador Ronaldo Caiado (DEM) ainda não tem uma base aliada definida na Assembleia Legislativa. As articulações se iniciaram mais tarde do que o usual. A primeira reunião ampla – um jantar para o qual só não foram convidados os parlamentares Cláudio Meirelles (PTC), Iso Moreira (DEM), Karlos Cabral (PDT) e Major Araújo (PRP) – aconteceu no dia 1º de abril. As estimativas são de que Caiado angarie de 21 a 30 de todos os 41 deputados estaduais para sua base.
Segundo Humberto Aidar (MDB), o atraso pode ser devido à escolha do governador de passar grande parte de seu início de mandato em Brasília, tentando converter fundos federais para Goiás. A concentração, entretanto, deverá se voltar aos assuntos domésticos em breve, pois, conforme o próprio Caiado já afirmou, “ninguém governa sem o legislativo”. Humberto Aidar, nomeado presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) no dia 19 de fevereiro, afirmou que em, no máximo, duas semanas a base de aliados de Ronaldo Caiado deve estar definida.
Apesar de o democrata se identificar com a chamada Nova Política, a forma pela qual a formação da base aliada será feita é a tradicional. Os quatro parlamentares foram excluídos do jantar por apoiar o aumento dos índices do orçamento impositivo. Já divergentes ideológicos de longa data – como o próprio Aidar, petista por 25 anos – se tornaram simpáticos após sinalizações de abertura do governo. Segundo Aidar, não se trata de loteamento de cargos, mas sim de democracia. “Se não vou participar, não vou discutir e nem ser ouvido, eu vou apoiar aquele governo? Não é assim que funciona em nenhum lugar do mundo. Não dá para reinventar a roda”.

A oposição
Ainda sem uma marca que defina seu governo, Ronaldo Caiado une antigos apoiadores de sua campanha ressentidos. Os deputados federais José Nelto (PODE), Delegado Waldir (PSL) além dos estaduais Major Araújo, e Cláudio Meirelles e outros têm a mesma queixa: de que apoiaram o Caiado candidato, mas estão sendo empurrados para a oposição pelo próprio governador. Não tiveram seus partidos contemplados, não são chamados para debater e sentem-se injustiçados sem saber o porquê. Estes podem ser surpreendidos positivamente e o cenário pode mudar, a depender das próximas atitudes do governador.
Diferentemente, Talles Barreto (PSDB), na franca oposição, aglutina opositores ativos, como Lucas Calil (PSD). Talles Barreto avaliou o início de mandato como “cem dias aquém do esperado. O Governo fez a opção de não pagar dezembro, não conseguiu montar sua equipe, está fazendo conchavos com parlamentares. Isso porque ainda não teve coragem de mandar as matérias polêmicas; não o vejo deslanchando tão cedo”. De forma semelhante, Lucas Calil já criticou o fato de que Ronaldo Caiado defendia as emendas parlamentares no Congresso Nacional, quando senador, mas como governador articula o fim do orçamento impositivo para cortar gastos da Receita Corrente Líquida.

Na Assembleia Legislativa
O orçamento impositivo tem sido a pauta principal na Assembleia Legislativa desde início do mandato de Ronaldo Caiado e é a linha mais nítida entre situação da oposição. A ferramenta garante que não somente os deputados da base aliada consigam verbas das emendas parlamentares, como historicamente foi feito. Entretanto, o índice de 1,2% foi rapidamente percebido como uma ficção por conta da falta de fundos do estado e reajustado para 0,5% em 2019. Oposicionistas, como Major Araújo, defendem o retorno a 1,2% enquanto membros da base aliada, como Bruno Peixoto (MDB), defendem que o orçamento impositivo não exista.
Para conseguir ampla maioria e barrar o aumento do percentual que está em vigor, o governador Ronaldo Caiado deu início a negociação que criticou durante a campanha: a distribuição de cargos em troca de apoio dos parlamentares.
Já foram contemplados com cargos no governo os deputados Humberto Teófilo (PSL), Virmondes Cruvinel (Cidadania), Humberto Aidar (MB) Rafael Gouveia (DC).