COMPARTILHAR

Comumente praticado contra idosos, criminosos especializados no golpe do “falso advogado” também tem mirado agentes de segurança pública — mais especificamente policiais militares. Apenas na região Metropolitana de Goiânia, foram registrados na Polícia Civil (PC) ao menos quatro tentativas de golpe e um golpe consumado. O policial foi lesado em quase R$ 4 mil.

De acordo com a vice-presidente jovem da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil Secção Goiás (OAB-GO), Tatielly Martins Rabelo, os golpistas invadem sistemas da Justiça como Projudi e o Jusbrasil e, então, utilizam dados de processos judiciais e fotos de profissionais reais para enganar cidadãos, levando-os a realizar pagamentos indevidos sob a promessa de liberação de valores ou resolução de pendências judiciais.

“Grande parte dessas fraudes ocorre porque os processos judiciais são, via de regra, públicos, o que permite que criminosos obtenham informações detalhadas diretamente dos sistemas eletrônicos dos tribunais. Com esses dados em mãos, eles abordam partes ou familiares, criando narrativas convincentes”, explica Tatielly Rabelo.

Por meio das plataformas, os criminosos conseguem acessar tanto dados dos clientes quanto dos advogados, assim como informações sobre processos. Os dados usados para tentar enganar as vítimas são, principalmente, nome completo, CPF, número de processos, valores envolvidos, tipo de ação e nomes dos advogados envolvidos nas ações.

Com as informações em mãos, os golpistas entraram em contato com as vítimas, na maioria das vezes, por aplicativos de mensagens. Os criminosos se apresentam como advogados, assessores jurídicos ou até mesmo um funcionário do advogado real. Há registros também de clonagem do aplicativo de mensagens do próprio profissional, usando sua foto e logotipo do escritório.

Um dos militares abordados é o major Wanderley Alves Moura, diretor administrativo da Academia de Polícia Militar, em Goiânia. Usando dados de um processo que o policial move na Justiça, os criminosos tentaram aplicar um golpe no agente se passando pela advogada responsável pela ação judicial, Luana Ribeiro, na última quinta-feira, 3. O Jornal Opção entrou em contato com o escritório de Luana, mas não obteve retorno.

“Recebi uma mensagem no celular de uma pessoa se passando pela minha advogada. Foi feita uma referência a uma causa cível que está em curso e dito que o processo havia transitado em julgado, já estava em fase de execução. No momento da mensagem, o perfil do golpista estava com os dados da advogada. Ele tinha o número histórico do processo e o valor da causa. Até uma cópia da sentença com o nome de um juiz de verdade, eles falsificaram e enviaram”, conta Major Moura.

Depois do fracasso ao aplicar o golpe no primeiro contato, os criminosos voltaram a mandar mensagem para o militar. Desta vez, porém, tentando se passar por um auditor. Eles chegaram a ligar por áudio para confirmar os dados bancários, alegando que iriam fazer uma transferência de mais de R$ 58 mil (valor da causa) após a quitação de taxas processuais e de impostos sobre o valor.

Um boleto chegou a ser enviado, mas o major desconfiou da forma como foi abordado. Erros de português nas mensagens também foram um sinal para evitar cair no golpe, o que fez com que ele entrasse em contato com o escritório para informar sobre o uso indevido dos dados.

“Normalmente os golpistas evitam isso e inventam uma série de desculpas. Também chama atenção os inúmeros erros de português na escrita e nas peças jurídicas que eles falsificam, erros completamente incompatíveis com os profissionais pelos quais eles estão tentando se passar”, reforçou.

Atuação OAB

O crescimento no número de casos envolvendo o “golpe do falso advogado” fez com que a OAB Brasil se empenhasse em alertar a população e os advogados sobre a empreitada criminosa. Em Goiás, foi lançada uma cartilha de orientação sobre o golpe com linguagem acessível, explicações objetivas e dicas práticas para que os cidadãos saibam identificar e evitar esse tipo de fraude.

Conforme Tatielly Martins, a entidade desenvolveu ainda a plataforma “Confirma ADV” — ferramenta digital gratuita e de fácil acesso, que permite à população verificar rapidamente a autenticidade dos dados de qualquer advogado ou advogada regularmente inscrito nos quadros da OAB. Por meio do número do registro ou do nome completo do defensor, é possível confirmar se o profissional está habilitado.

“Essas iniciativas demonstram o compromisso da OAB com a ética, a transparência e a proteção da sociedade contra práticas criminosas que desvalorizam a profissão e colocam em risco a confiança do público na Justiça. Informar-se, conferir os dados do profissional e desconfiar de promessas fora da realidade são atitudes essenciais”, concluiu.