A partir da próxima quinta-feira, 9, o Centro Estadual de Atenção ao Diabetes (Cead), instalado no Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG), passa a oferecer um novo acompanhamento para crianças e adolescentes com diabetes. O serviço começa a disponibilizar um medidor contínuo de glicose (CGM) , tecnologia que permite medir a glicose no sangue em tempo real, 24 horas por dia, durante 15 dias consecutivos.

Em entrevista ao Jornal Opção, o chefe do serviço de endocrinologia do HGG, Dr. Nelson Rassi, destacou explicou como será o procedimento. “Estaremos iniciando um programa em que os nossos pacientes com diabetes da faixa etária de criança a adolescente receberão dentro do tratamento, um aparelho que nós chamamos de aparelho de monitoramento glicêmico contínuo, para medir a glicemia deles, ou seja, medir a glicose no sangue, de maneira contínua”.

O dispositivo é pequeno, de fácil colocação e praticamente indolor. Ele permanece fixado no corpo por 15 dias e mede a glicemia automaticamente, enviando as informações diretamente para o celular do paciente. Com isso, a criança ou o adolescente pode acompanhar em tempo real as variações da glicose, seja em casa, na escola ou em qualquer ambiente.

De acordo com o endocrinologista, o grande diferencial do equipamento está na autonomia que ele proporciona. “Essa criança, esse jovem, com o diabetes tipo 1, vai saber, a qualquer momento, como está a glicemia, se ela está alta, baixa, normal ou caindo”, explicou.

Essa informação imediata permite que o paciente, devidamente orientado por seu médico, possa agir de forma preventiva. “Se a glicose está caindo, ele pode comer algo e evitar a hipoglicemia. Se está subindo, ele já sabe, por orientação prévia, quanto de insulina deve aplicar para normalizar a glicemia”, completou o especialista.

Além de beneficiar diretamente o paciente, o sistema também auxilia o médico responsável, que passa a ter acesso remoto e detalhado aos dados coletados durante o uso do aparelho. Dessa forma, as próximas consultas se tornam mais precisas, permitindo ajustes personalizados no tratamento. “Com isso, você torna o controle do diabetes bem mais fácil, bem mais humano também. Além de facilitar, você faz com que a vida dele seja bem mais tranquila, bem mais fácil”, ressaltou Dr. Rassi.

A decisão de iniciar o programa com crianças e adolescentes se deve às particularidades dessa fase da vida. Segundo o médico, a infância e a adolescência são períodos de intensas oscilações hormonais, emocionais e físicas, que impactam diretamente o controle glicêmico. “A criança está em crescimento, e isso faz com que haja oscilações mais frequentes. É um ser mais frágil, que tem dificuldade de tomar decisões. Você precisa facilitar essa tomada de decisões”, afirmou.

O endocrinologista também enfatizou que o monitoramento contínuo facilita a participação dos pais, avós ou responsáveis no cuidado diário. As informações coletadas pelo sensor podem ser compartilhadas com familiares, mesmo à distância. “Isso facilita, porque muitas vezes a criança está na escola e acontece um evento, o pai e a mãe vigiam essa criança de longe”, explicou. Essa funcionalidade oferece maior segurança às famílias, especialmente em situações em que o jovem não está sob supervisão direta.

No caso dos adolescentes, o impacto é ainda mais relevante. A puberdade é uma fase marcada por transformações intensas e, muitas vezes, pela resistência ao tratamento. “É uma época de mudança, de alterações no corpo e na cabeça. É um momento de negação, de revolta, de sentimento do famoso ‘sou do contra’. Então, com esse aparelho, a vida do jovem fica mais fácil e ele aceita com mais naturalidade a doença”, observou Dr. Rassi.

O programa representa um avanço importante na política pública de saúde voltada ao diabetes em Goiás. Embora o objetivo a longo prazo seja expandir o uso do equipamento para todas as faixas etárias, o médico reconhece que o custo elevado do dispositivo ainda é um obstáculo. “Obviamente o ideal é disponibilizar esse aparelho para todos, certo? Acho que nós vamos chegar nisso, mas como é um aparelho de altíssimo custo, pelas limitações financeiras do sistema de saúde, optamos por pegar essa população mais vulnerável”, explicou.

Ainda assim, o endocrinologista garante que outros grupos, como adultos e idosos com diabetes, também serão beneficiados futuramente. “Obviamente, certamente serão beneficiados num segundo momento”, adiantou.

Para o Dr. Nelson Rassi, o maior ganho está na qualidade de vida. A tecnologia permite que crianças e adolescentes tenham uma rotina mais tranquila, participem das atividades escolares e sociais com mais segurança e convivam melhor com a condição. “Você faz com que a vida dele seja bem mais tranquila, bem mais fácil. E ele pode ter um cotidiano mais saudável e mais sereno”, reforçou o especialista.

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