Goiás tem se consolidado como uma das principais fronteiras da mineração de terras raras no Brasil. Elementos estratégicos para tecnologias de ponta e para a transição energética, como carros elétricos e turbinas eólicas, os minerais atraem o interesse de países como Japão, China, Estados Unidos e membros da União Europeia. No entanto, segundo representantes do setor, transformar esse potencial em desenvolvimento econômico exige mais que a exportação do minério bruto: é preciso infraestrutura industrial e políticas públicas claras.

A única mina de terras raras atualmente em operação no Brasil está localizada em Minaçu, no norte goiano, sob responsabilidade da mineradora Serra Verde. A planta já produz em escala industrial quatro elementos considerados críticos — neodímio, praseodímio, térbio e disprósio —, mas todo o material é exportado, principalmente para a China. Isso ocorre porque o Brasil ainda não possui indústrias capazes de processar o concentrado mineral e integrá-lo à cadeia tecnológica.

“A mina do Brasil não consegue vender para o Brasil. Tem que exportar. Hoje o grande comprador é a China, porque tem toda a estrutura de processamento. O Japão também pode comprar, mas o principal destino é a Ásia”, explica Luiz Antônio Vessani, presidente do Sindicato da Indústria da Mineração do Estado de Goiás e Distrito Federal (MINDE) ao Jornal Opção.

O presidente do sindicato também chama atenção para a diferença entre reserva mineral e produção efetiva. Apesar de Goiás abrigar a maior reserva brasileira de terras raras pesadas, o Brasil ainda responde por uma fração pequena da produção global, que segue concentrada na China.

“O Brasil tem uma mina pequena produzindo. Em termos de reserva, estamos atrás da China e dos Estados Unidos. A produção mundial de mina está mais de 90% concentrada na China”, afirma Vessani.

Para Vessani, é fundamental fomentar a instalação de indústrias consumidoras do concentrado mineral, que possam processar o material dentro do Brasil. “A mineradora vende um concentrado. Daí para frente, ela está fora. São outras empresas que transformam esse concentrado em metais específicos e, depois, em produtos como ímãs. E não existe nenhuma indústria dessa no Brasil”, ressalta.

O setor defende que Goiás e o governo federal adotem medidas para atrair empresas com capacidade tecnológica e industrial, reduzindo a dependência externa e agregando valor à produção nacional.

Um dos principais obstáculos ao avanço de novos projetos é a lentidão no licenciamento ambiental. Vessani reconhece a importância da legislação, mas cobra agilidade nos trâmites. “A gente não quer que flexibilize a lei. A gente quer agilidade na análise. Se o projeto tem um problema técnico, é importante que ele seja apontado logo para a empresa corrigir. Ficar esperando um ano por uma resposta é inaceitável”, afirma.

Atualmente, há diversos projetos em estágio de pesquisa ou implantação, como os da Aclara Resources, em Nova Roma, e da canadense Appia, em Iporá. A expectativa é que mais minas entrem em operação nos próximos anos.

Apesar das críticas, o presidente do sindicato avalia positivamente o diálogo com o governo de Goiás. Segundo ele, o governador Ronaldo Caiado e os secretários Joel Sant’Anna (Indústria e Comércio), Adriano da Rocha Lima (Casa Civil) e Andréa Vulcanis (Meio Ambiente) têm demonstrado interesse em entender o setor e discutir medidas de incentivo.

“O governador, o Joel, o Adriano e a secretária Andréa estão bastante empenhados em entender a questão. Estão conversando com empresários e com os sindicatos. A gente está vendo um movimento positivo nesse sentido”, afirma Vessani.

O cenário geopolítico também pressiona o Brasil a se posicionar. Durante recente missão ao Japão, autoridades do país asiático manifestaram interesse nas jazidas goianas. Segundo o secretário Joel Sant’Anna, os japoneses demonstraram urgência no acesso aos insumos, essenciais para indústrias como a automotiva, ferroviária e de defesa.

Uma comitiva japonesa deve visitar Goiás em agosto para uma análise técnica das áreas de exploração. A expectativa é que possíveis acordos envolvam não apenas a exportação do minério, mas também transferência de tecnologia e industrialização local.

Potencial de transformação regional

Além do impacto econômico, a mineração de terras raras pode transformar regiões carentes do estado. Em Nova Roma, por exemplo, o Projeto Carina prevê a geração de mais de 5 mil empregos — número superior à população atual da cidade.

Para isso, o governo estadual planeja medidas de mitigação de impactos, como investimentos em saúde, moradia e infraestrutura. O secretário Joel Sant’Anna também destacou que o processo de extração das terras raras é de baixo impacto ambiental e pode até beneficiar o solo, segundo estudos da Embrapa.

A demanda global por terras raras tende a crescer com o avanço da transição energética e da eletrificação dos transportes. Goiás, ao reunir reservas, projetos e infraestrutura inicial, tem a chance de se posicionar como protagonista. O desafio agora é garantir que o minério extraído não seja apenas mais um produto de exportação, mas um vetor de desenvolvimento econômico, tecnológico e social.