A Prefeitura de Goiânia afirma ter reduzido de forma significativa o número de pessoas em situação de rua na capital ao longo do último ano. Segundo a secretária municipal de Desenvolvimento Social, Erizania Freitas, o município saiu de uma estimativa de mais de 4 mil pessoas vivendo nas ruas para cerca de mil atualmente — o que representa uma redução de aproximadamente 80%.

“Aqui a gente não trabalha com número, a gente trabalha com CPF. É pessoa por pessoa, entendendo a complexidade de cada caso”, afirmou a secretária ao Jornal Opção. De acordo com ela, o levantamento é feito por meio do Sistema Unificado de Proteção Social (SUPS), criado para acompanhar individualmente os atendimentos voltados à população em situação de rua.

Erizania explica que parte dessas pessoas foi reinserida socialmente por meio de políticas públicas, enquanto outra parcela optou por retornar aos municípios de origem. “Quando há retorno, a gente entra em contato com a família ou com a rede de assistência do município de destino, para que essa pessoa continue sendo acompanhada”, disse. Para a secretária, o objetivo da gestão é claro: “As pessoas em situação de rua, em Goiânia, não são invisíveis para essa gestão”.

Centro POP e estrutura de atendimento

A secretária também destacou a mudança da sede do Centro POP para o Setor Aeroporto, apontando melhorias estruturais e de acessibilidade. Segundo ela, a antiga unidade não comportava adequadamente os usuários. “Os atendimentos aconteciam até na calçada, porque não havia espaço físico suficiente. Hoje, temos refeitório, quintal, área para atividades e banheiros com chuveiro quente”, afirmou.

A previsão, segundo Erizania, é que até março a unidade esteja totalmente reformada. “O investimento é para garantir dignidade no atendimento dessas pessoas”, reforçou.

Olhar crítico da academia

Apesar dos avanços apontados pela prefeitura, o pesquisador Fernando de Oliveira, do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Criminalidade e Violência, da Universidade Federal de Goiás, avalia que o problema da população em situação de rua exige políticas estruturais e permanentes.

Para ele, o debate não pode ser reduzido apenas à retirada das pessoas das ruas. “Existe uma lógica perversa em que, quanto pior a situação, maior a pressão social para afastar essas pessoas dos territórios centrais”, afirmou. Segundo Fernando, há um conflito constante entre o direito dos moradores e o direito das pessoas em situação de rua, que acaba recaindo sobre os mais vulneráveis.

O pesquisador também chama atenção para a criminalização da pobreza. “Não dá para tratar toda a população em situação de rua como um problema de segurança pública. Há pessoas trabalhadoras, que não conseguem emprego porque não têm acesso a algo básico como banho, roupa limpa e endereço”, disse.

Fernando defende que políticas como moradia assistida e fortalecimento dos serviços básicos são fundamentais para romper o ciclo da rua. Ele cita experiências internacionais, como o modelo Housing First, que prioriza o acesso à moradia antes de outras exigências. “Nenhum país encontrou uma solução simples, mas sabemos que repressão isolada não resolve”, pontuou.

Desafio permanente

A prefeitura reconhece que ainda há desafios, especialmente no atendimento a pessoas com dependência química ou transtornos mentais. Segundo Erizania, projetos estão sendo desenvolvidos em parceria com o Judiciário e outros órgãos para atender esses casos de forma individualizada.

Enquanto isso, o debate segue entre gestão pública, especialistas, movimentos sociais e moradores. De um lado, a prefeitura destaca a redução expressiva do número de pessoas nas ruas; de outro, pesquisadores alertam para a necessidade de políticas de longo prazo que garantam não apenas a saída das ruas, mas a permanência dessas pessoas em condições dignas de vida.

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