Goiânia ainda conta com postes de madeira, mas especialistas apontam que não há risco à população
10 novembro 2025 às 06h00

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Em alguns bairros de Goiânia ainda é possível notar a presença de postes de madeira sustentando a rede elétrica e fios de telefonia. A reportagem notou a presença das estruturas desse material nos bairros como Jardim América, Vila Boa, Jardim Presidente, entre outros. Para alguns moradores, eles já passaram da hora de serem substituídos.
É o caso do comerciante Hélio Freitas. Para ele, em relação à resistência, os postes têm cumprido o seu papel, mas que, com o passar do tempo, o modelo tem desagradado na questão estética da cidade. “A tecnologia já chegou e, com o passar dos anos, ele ficou mais feio. Ao nossos olhos, seria mais agradável a troca por um de concreto. Iedo Peixoto complementa. “É algo ultrapassado. Não faz sentido manter algo assim em uma cidade tão bonita quanto a nossa.”
Apesar das críticas dos moradores, especialistas ouvidos pelo Jornal Opção apontam que os postes de madeiras não trazem riscos à população. A afirmação é corroborada pela Equatorial, responsável pela manutenção. A empresa afirmou que 5% dos postes da capital são feitos de madeira, mas não divulgou a totalidade das estruturas existentes na cidade.
De acordo com a concessionária, os postes, em sua maioria, são feitos de eucalipto tratado, que é uma espécie de reflorestamento, reconhecida pela alta resistência e durabilidade. A empresa traz ainda que a estrutura passa por inspeções regulares e é mantida em condições adequadas de operação. “O tratamento preservativo aplicado garante proteção contra cupins, fungos e umidade, assegurando sua integridade estrutural por longos períodos”, diz a empresa em nota.
A empresa afirma ainda que executa o Plano de Investimento Fim de Vida útil, que faz a substituição planejada de ativos que atingiram o prazo de validade, o que abrange postes de madeira e concreto. “As trocas ocorrem de forma preventiva e contínua, com base em indicadores técnicos e financeiros, garantindo segurança e eficiência na operação do sistema elétrico”, afirma.
Com manutenção, tudo bem!
O presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas Regional de Goiás(ABEE-GO), Petersonn Caparrosa, explica que os postes de madeira ainda existentes nas redes de energia de Goiás foram instalados há mais de 30 ou 40 anos, em sua maioria durante o período estatal da Celg. Segundo ele, não há mais instalação de novos postes de madeira, apenas substituições graduais por modelos de concreto, conforme as estruturas antigas se degradam.
Caparrosa afirma que os riscos para a população são baixos, desde que haja manutenção adequada e os condutores estejam devidamente instalados. Ele destacou que, em alguns casos, os postes de madeira podem resistir melhor a impactos de veículos do que os de concreto, que são ocos. “A madeira deixou de ser usada principalmente por uma questão de padronização e também ambiental, para que não fosse mais preciso derrubar árvores para fabricar postes.”
O engenheiro também alertou para o problema dos cabos de telefonia e internet mal instalados, que causam trações irregulares e podem entortar ou romper os postes, sobretudo quando ficam abaixo da altura mínima e são puxados por caminhões. “A gente projeta as redes exatamente para poder suportar o tanto o peso dos cabos e dos condutores quanto da estrutura como um todo. Porém, a tração é como se fosse um cabo de guerra. Se a gente não tiver um cuidado na hora de equilibrar essa tração, o poste cede”, destaca.
E o que os cabos da telefonia e de empresas dos provedores de internet mal instalados provocam? É essa puxada que pode fazer com que o poste entorte para um lado. O peso colocado nesse poste pode influenciar, porque eles aguentam até determinada quantidade. Agora, quando há um exagero na tração, o poste já começa a sentir esse impacto.
Redes subterrâneas seriam a solução ideal
A urbanista Lorena Cavalcante corrobora que o maior perigo está na ausência de manutenção periódica, o que pode levar à queda dos postes e até à perda de vidas humanas. Ela menciona que, em regiões do país como o Rio Grande do Sul, entidades técnicas já condenaram o uso de postes de madeira e fizeram apelos às concessionárias e ao Poder Público pela substituição urgente.
Lorena explica que, por serem materiais orgânicos, os postes de madeira sofrem com insetos, sol e umidade, o que reduz sua resistência. As mudanças climáticas, com ventos mais fortes e tempestades mais intensas, agravam a situação, podendo causar interrupções de energia e prejuízos a consumidores e comércios.
Para ela, a substituição desses postes não deve ser cobrada do consumidor, pois a concessionária já deve prever verba para manutenção da rede. Ela defendeu ainda uma articulação entre Poder Público e empresas, como a Equatorial, para que a substituição seja feita sem repassar custos à população. E defende que, acima de tudo, a solução ideal seria substituir a rede aérea por subterrânea.
É viável. Não vai acontecer em toda rede ao mesmo tempo. Realmente tem que existir um cronograma, uma organização e um planejamento para que isso acontecesse. Mas é viável e necessário. É uma coisa onerosa, mas nosso país tem uma carga tributária altíssima. Enquanto contribuinte, investimos muito dinheiro junto ao Poder Público. O objetivo é que ele retorne para nós de alguma forma, finaliza.

