Frigoríficos goianos paralisam exportação para os Estados Unidos em reposta a taxação

16 julho 2025 às 08h00

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Frigoríficos goianos começaram a paralisar as exportações de carne bovina para os Estados Unidos após a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos agropecuários brasileiros pelo governo norte-americano. A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, provocou forte reação do setor produtivo em Goiás, um dos maiores polos exportadores de proteína animal do Brasil. O impacto, segundo representantes da indústria e do governo estadual, já é imediato, com suspensão de abates destinados ao mercado americano e incerteza sobre a viabilidade de honrar contratos previamente firmados.
Em entrevista ao Jornal Opção, o presidente do Sindicarnes Goiás, que representa os frigoríficos do estado, alertou para a gravidade da situação: “Essa semana, os frigoríficos goianos estão fora das compras de boi destinados à exportação para os Estados Unidos. Os contratos de venda foram fechados com 30 a 60 dias de antecedência, mas a compra da matéria-prima — o boi — é feita semanalmente. Com a tarifa, torna-se inviável produzir carne para esse mercado”, afirmou.
Segundo o dirigente, além dos prejuízos operacionais, há risco jurídico e financeiro: “Tem produto sendo preparado nas plantas industriais, carne a caminho dos portos brasileiros, carga que já foi embarcada e está em trânsito marítimo. Tudo isso pode chegar aos EUA após o início da vigência da tarifa e ser surpreendido com uma taxação de 50%. Isso representa um rombo para a indústria e também para o pecuarista que já negociou esses animais”, explicou.
Consequências imediatas e risco sistêmico
A paralisação da produção destinada ao mercado norte-americano afeta uma parcela significativa das exportações goianas. Segundo dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa), os Estados Unidos são responsáveis por cerca de 25% das compras de carne bovina produzida no estado, ficando atrás apenas da China. Goiás, por sua vez, ocupa o posto de terceiro maior exportador de carne bovina do Brasil — país que lidera o ranking global do setor.
Em nota, a Seapa reconheceu que a taxação norte-americana impacta não apenas os frigoríficos que já exportam para os EUA, mas todo o mercado, ao gerar uma sobreoferta de carne para outros países e para o consumo interno, com pressão direta sobre os preços. “A medida impacta diretamente não só aqueles que já exportam para o país, como também os que não o fazem, tendo em vista que gera uma maior oferta para outros mercados, bem como para o mercado interno”, afirmou a pasta.
Ainda de acordo com a secretaria, o efeito dominó pode atingir também a cadeia de grãos, já que a maior parte da produção agrícola é utilizada na alimentação animal.
Setor cobra ação diplomática urgente
O Sindicarnes defende uma resposta firme do governo federal. “A indústria precisa de previsibilidade. Não se pode alterar contratos unilateralmente com uma medida protecionista como essa, sem diálogo. Esperamos que o governo brasileiro atue diplomaticamente para tentar suspender ou pelo menos adiar a vigência dessa tarifa. Caso contrário, o prejuízo será inteiramente arcado pelo setor produtivo”, declarou o presidente do sindicato.
Para além da demanda por uma resposta diplomática, as lideranças do setor também cobram que o governo busque alternativas comerciais. A Seapa informou que tem ampliado esforços para diversificar os mercados compradores. “O Governo de Goiás tem trabalhado no sentido de ampliar as relações internacionais. A exemplo disso, destaque para a Missão ao Japão que está sendo realizada, além da interlocução junto aos representantes de outros países”, informa a nota.
Nota Seapa na íntegra
A taxação de 50% imposta pelo governo estadunidense sobre os produtos agropecuários brasileiros deve afetar o agronegócio goiano, bem como todo o cenário nacional. Em Goiás, olhamos com atenção essa decisão, principalmente no que se refere ao abate de animal. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial de Goiás em relação a exportação de bovinos, ficando atrás apenas da China. O país norte-americano é responsável por aproximadamente 25% da compra dos bovinos que são produzidos em Goiás. De modo geral, o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, sendo o estado de Goiás o terceiro maior exportador.
A medida impacta diretamente não só aqueles que já exportam para o país, como também os que não o fazem, tendo em vista que gera uma maior oferta para outros mercados, bem como para o mercado interno. Isso influencia diretamente no preço, até que se alcance um equilíbrio. Em Goiás, alguns frigoríficos já iniciaram a paralisação de exportação de carne bovina para os EUA.
Além dos impactos no que se refere à exportação de proteína animal, a maior parte da produção de grãos é destinada à alimentação animal. Desta forma, a taxação também pode ter um impacto significativo nesse cenário.
O Governo de Goiás tem trabalhado no sentido de ampliar as relações internacionais. A exemplo disso, destaque para a Missão ao Japão que está sendo realizada, além da interlocução junto aos representantes de outros países. Essas medidas visam aumentar as alternativas de exportações, para que essas medidas pontuais não tenham impactos tão expressivos no mercado interno.
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