Frase de Lula sugere que crime organizado resulta de problema social e não de empreendedorismo mafioso
25 outubro 2025 às 10h57

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Análises antigas para fatos novos resultam em interpretação equivocada da realidade.
Parte substancial da esquerda tende a avaliar a criminalidade — mesmo o crime organizado — como resultante das desigualdades sociais.
Há dois problemas que a esquerda, a que está sendo mencionada (a militante), não quer perceber.
1
Pobres não são geradores da criminalidade
Primeiro, sem querer, mas refletindo um preconceito — quiçá generalizado—, a esquerda culpa os pobres pela criminalidade. É como se, sendo pobre, o indivíduo estivesse à porta de se tornar criminoso. O que, claramente, não procede.
A esquerda política reflete, em certa escala, o que pensa parte da esquerda acadêmica, que, durante anos, conectou miséria à criminalidade. Recentemente, um dos acadêmicos escreveu um livro sobre o “pobre de direita”. Ou seja, mais uma “acusação” contra os pobres — que, em 2022, elegeram Lula da Silva, de esquerda, para a Presidência da República.
2
Crime organizado se tornou bilionário
Segundo, o crime organizado não tem origem nas desigualdades sociais. Trata-se de um empreendimento, altamente organizado e financeiramente sustentável.

As máfias tropicais — as mais destacadas são o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) — são empresas que atuam em vários segmentos, como postos de gasolina, usinas de álcool, hotelaria, motéis, distribuidoras de bebidas, concessionárias de automóveis, imobiliárias, transporte coletivo. O PCC disputa até obras públicas. O tráfico de drogas e cigarros é apenas uma de suas atividades.
O PCC lida com bilhões de reais — atua em vários países — e seus membros, pelo menos os líderes, são milionários e vivem vidas nababescas. Vários têm origem nas classes médias.
O crime organizado não é, portanto, um problema social ou não é inteiramente social. É um grave problema de segurança pública. Se o Brasil não quiser se tornar um narcoestado é preciso agir já. O PCC matou um ex-delegado, Ruy Ferraz Fontes, e planeja matar um promotor, Lincoln Gakyia, e o diretor dos presídios da região oeste de São Paulo, Roberto Medina.
Noutras palavras, o PCC não teme mais ninguém. O que reflete a falta de Estado como barreira às ações criminosas.
3
Lula e o inconsciente coletivo da esquerda
O presidente Lula da Silva disse que os traficantes são “vítimas” dos usuários de drogas. Depois da repercussão negativa, o petista-chefe contrapôs que se tratou apenas de uma frase mal colocada.

É provável que a frase tenha sido mal colocada, dado seu caráter absurdo. Mas reflete, em certa medida, o que parte da esquerda — não toda a esquerda — pensa sobre a criminalidade. Ou seja, que, resultantes (vítimas) de problemas sociais, os criminosos têm de ser tratados com luvas de pelica.
A frase fora do lugar de Lula da Silva estava no seu inconsciente. Sob relativa “pressão”, liberou-a.
O crime organizado precisa ser tratado com rigor e não com palavras bonitas e leis “elásticas”. Não se está defendendo que se deve matar traficantes, e sim que é preciso investigá-los, condená-los e prendê-los. Como penas de longas prazo e prisões seguras. Prisões nas quais sejam tratados como criminosos periculosos, e não hóspedes de luxo. Hoje, os presídios se tornaram “hotéis” do PCC, do CV e outras “instituições” criminosas. São os verdadeiros administradores das penitenciárias.
Como pode Marcola liderar o PCC a partir de um presídio de segurança máxima? Não deveria, é claro. Mas é o que ocorre.
Lula da Silva está tentando — e é isto mesmo: tentando — criar uma política de segurança nacional, depois de dois anos e 10 meses de governo. Mas arrancar as ideias do ministro Ricardo Lewandowski do papel e colocá-la em prática parece que é muito difícil. Talvez porque o petismo ainda pensa na criminalidade como resultante meramente de problemas sociais.
Sidônio Palmeira precisa, urgentemente, “criar” um novo inconsciente para Lula da Silva.
