Ex-presidente criticou publicamente declarações de deputado federal sobre coronel Ustra, acusado de matar pelo menos 60 pessoas e torturar mais de 500 presos

Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil
Para Fernando Henrique Cardoso, comentário de Bolsonaro é um desrespeito aos cidadãos brasileiros | Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil

O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso condenou, em sua página no Facebook, o comentário do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ao votar pelo impeachment da presidente no último domingo (17/4). Na sessão que analisou a admissibilidade do processo, Jair dedicou seu voto a um dos mais conhecidos torturadores da Ditadura Militar, responsável pelo Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do regime, coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.

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“É inaceitável que tantos anos após a Constituição de 1988 ainda haja alguém com a ousadia de defender a tortura e, pior, elogiar conhecido torturador”, protestou FHC. Na postagem, o tucano também conclamou seus correligionários a endossarem sua fala: “O PSDB precisa repudiar com clareza essas afirmações, que representam uma ofensa aos cidadãos do país e, muito especialmente, aos que sofreram torturas”.

Fernando Henrique também disse esperar que o processo tramite no Senado sem delongas, mas também sem as “declarações estapafúrdicas” que foram feitas pelos deputados no plenário da Câmara. “Quando chegar o momento da decisão dos senadores, que a votação se processe de forma conveniente”, escreveu.

Quem é Ustra?

Ustra foi acusado de ter matado pelo menos 60 pessoas durante a Ditadura Militar, além de ter sido diretor do departamento em que mais de 500 pessoas foram torturadas. O termo “torturador”, usado para se referir ao general, não é questão ideológica: a alcunha foi oficialmente dada a ele pelo Ministério Público Federal (MPF).

Desde que Bolsonaro fez a defesa de Ustra em plenário da Câmara dos Deputados, milhares de pessoas o repudiaram publicamente e também registrando sua indignação na Procuradoria-Geral da União (PGU). Durante a última semana, também foram publicados relatos de vítimas do coronel Ustra, cujos métodos incluíam choques, espancamentos e introdução de animais nas genitálias dos presos.

Na sua fala, Bolsonaro não só dedicou seu voto ao torturador, como também disse que ele foi o “pavor de Dilma Rousseff”, torturada pelo DOI-Codi enquanto esteve presa, na década de 70. Comentando a declaração do deputado, a presidente Dilma (PT) classificou exaltação como “lamentável”: “É terrível você ver no julgamento alguém votando em homenagem ao maior torturador que esse país conheceu. É lamentável.”