Febre nas redes e risco nos dentes: “morango do amor” preocupa dentistas pelo alto potencial de dano bucal

08 agosto 2025 às 15h04

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O “morango do amor”, nova sensação da confeitaria brasileira, caiu rapidamente no gosto popular após viralizar nas redes sociais. Composto por um morango fresco coberto por brigadeiro branco e envolvido em uma camada espessa e brilhante de caramelo vermelho, o doce tem impulsionado as vendas em docerias de todo o país. No entanto, profissionais da odontologia alertam que o consumo da guloseima pode trazer sérias consequências à saúde bucal.
O alerta veio diretamente do Conselho Federal de Odontologia (CFO), que, na última semana, destacou os riscos envolvidos no consumo de alimentos duros e pegajosos, como é o caso do “morango do amor”. Diante da popularização da sobremesa, o Jornal Opção ouviu duas especialistas em odontologia para entender os reais perigos por trás da casca vermelha açucarada e apresentar orientações para quem, mesmo ciente dos riscos, pretende saborear a novidade com segurança.
Camila de Freitas, cirurgiã-dentista e coordenadora do Serviço Odontológico para Pacientes Especiais (Sope), alerta que os danos vão muito além da aparência inofensiva do doce. Ela explica que há dois níveis de risco: os efeitos do açúcar e o impacto mecânico de morder a estrutura dura do caramelo.
“Primeiramente, os riscos inerentes ao consumo excessivo de açúcar e ausência de higiene oral facilitando doenças bucais. Segundo ao hábito de morder alimentos duros com os dentes anteriores que podem fraturar. Associado ao risco de soltura de lentes e fraturas de próteses. A resistência do caramelo e o movimento de alavanca feito ao pressionar o morango com os dentes anteriores podem levar à fratura”, afirma Camila.
Segundo a profissional, o problema é agravado em pessoas que utilizam próteses, têm restaurações dentárias ou aparelhos ortodônticos. A força necessária para quebrar a casquinha pode gerar lesões estruturais irreversíveis, que demandam atendimento odontológico imediato.
A preocupação é compartilhada pela cirurgiã bucomaxilofacial Suyana Carneiro, da rede Hapvida. Em entrevista ao Jornal Opção, ela detalhou o processo de fabricação do doce e como ele pode representar uma ameaça silenciosa aos dentes.
“A calda que é feita do morango do amor, dependendo de como é que ela é feita, mas aquela calda dura, ela já tem doce naquela calda, já tem um doce por dentro, para depois chegar no morango, né? Tem vários doces ali. Aquele doce que fica muito duro, aquela casca eles fazem aquela camada, ela não fica fininha. É uma camada bem dura, bem resistente, e nisso ela pode quebrar restaurações, pode inclusive retirar facetas de porcelana, de resina”, explica.
Suyana também destaca que o doce pode causar “deslocamento das próteses. Principalmente aquelas próteses totais”. E o problema não para por aí. “O grude daquele doce, daquela parte caramelizada e da parte de dentro, esse grude, ele vai ficar muito preso entre os dentes, e nos próprios dentes, na oclusal dos dentes. Você precisa realmente tentar tirar, tentar remover aquilo dali e depois de escovar os dentes, não necessariamente você vai conseguir remover tudo, porque ele é muito grudento, ele prende muito”.
Além dos riscos imediatos, como fraturas e quebras, há um problema ainda mais silencioso: o acúmulo de resíduos açucarados nas superfícies dentárias. De acordo com Suyana, isso cria um ambiente ideal para a proliferação de bactérias.
“A quantidade de doce é muito alta, é muito elevada, onde nesse doce que está nessa região toda da nossa boca, vai ter uma proliferação de bactérias muito grande. E essa proliferação das bactérias, elas vão criar ácidos, porque elas se alimentam desses doces, e aí esses ácidos que elas liberam, eles fazem a destruição dos dentes, e é isso que faz com que ocorra a cárie”, explica.
Ela alerta que crianças e pessoas com menor habilidade motora podem enfrentar ainda mais dificuldades na remoção desses resíduos, o que agrava o problema.
Dá para experimentar? Sim, mas com cautela
Apesar dos alertas, a doutora Camila de Freitas não é categórica ao recomendar o abandono total da iguaria. Em vez disso, ela sugere uma abordagem mais cuidadosa ao consumir o doce. “Não digo para evitar. Mas ter cuidados especiais ao partir com garfo e faca e utilizar os dentes posteriores para mastigar pedaços menores da sobremesa. Fracione com talheres em pedaços menores”, orienta.
Ela ainda ressalta que o impacto do açúcar no organismo não pode ser ignorado, especialmente para grupos com condições de saúde específicas. “Principalmente se não ocorrer a higiene oral em seguida, bem como se o paciente for diabético, pois a diabetes e a doença periodontal colaboram mutuamente com a gravidade uma da outra”, acrescenta.
“Tem limitações não só do morango do amor, mas outros alimentos mais duros, como pipoca, evitar morder maçã, por conta que arranca os bráquetes, os fios. Então, para se alimentar com esse tipo de alimento, quem quer mesmo comer pode cortar, quebrar o alimento, em vez de morder diretamente”, sugere Suyana.
E caso algum acidente aconteça, a doutora Suyana Carneiro recomenda buscar atendimento imediato. “Quando isso acontecer, de quebrar o dente, deslocar o bracket, eu acho importante procurar uma emergência com dentista, para que possa ser feito o atendimento o mais rápido possível, porque aquilo está danificado.”
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