O CEO da empresa sul-coreana Innospace, Kim Soo-jong, pediu “profundas desculpas” aos acionistas após o fracasso do primeiro lançamento comercial de um foguete a partir do território brasileiro. O artefato, o HANBIT-Nano, decolou na noite de segunda-feira, 22, do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, mas apresentou uma anomalia cerca de 30 segundos após a decolagem e acabou colidindo com o solo dentro da área de segurança da base.

Em carta divulgada nesta terça-feira, 23, Soo-jong afirmou que a missão foi encerrada seguindo rigorosamente os protocolos de segurança e destacou que não houve vítimas nem danos às áreas vizinhas. Segundo ele, o foguete iniciou normalmente sua trajetória e a manobra de inclinação para inserção orbital, mas apresentou uma falha técnica ainda no primeiro estágio do voo.

“Detectamos uma anomalia aproximadamente 30 segundos após o lançamento. Seguindo os procedimentos de segurança, o veículo foi direcionado para queda controlada dentro da zona terrestre delimitada, o que resultou em chamas após o impacto com o solo”, explicou o executivo.

A missão tinha como objetivo colocar em órbita terrestre baixa, a cerca de 300 quilômetros de altitude, oito cargas úteis — cinco satélites de clientes e três dispositivos experimentais não separáveis. Com a falha, nenhuma das cargas atingiu a órbita planejada. Apesar disso, o CEO ressaltou que o voo gerou uma grande quantidade de dados técnicos que serão usados para aprimorar o projeto e aumentar a confiabilidade dos próximos lançamentos.

A Innospace informou que trabalha em conjunto com autoridades brasileiras, incluindo a Força Aérea Brasileira (FAB), para conduzir uma investigação minuciosa sobre as causas da falha. A FAB confirmou que o foguete sofreu uma anomalia que o fez colidir com o solo e afirmou que todas as etapas de segurança, rastreamento e controle da operação foram executadas conforme o planejamento.

“O lançamento ocorreu de forma controlada e dentro dos parâmetros internacionais do setor espacial”, afirmou a FAB, em nota. Equipes técnicas da Aeronáutica e do Corpo de Bombeiros do CLA foram enviadas ao local para análise dos destroços e da área de impacto.

Este foi o primeiro lançamento comercial realizado a partir do Brasil, marco considerado estratégico para a inserção do país no mercado global de lançamentos espaciais, hoje dominado por Estados Unidos, Europa e China. A chamada Operação Spaceward contou com a participação de cerca de 400 profissionais, sendo 300 militares, e envolveu uma cooperação entre o setor público e a iniciativa privada. O foguete não era tripulado.

A operação estava inicialmente prevista para novembro, mas foi adiada cinco vezes por razões técnicas e operacionais. A janela de lançamento se encerrava na noite de segunda-feira, o que levou à realização da tentativa mesmo após sucessivos adiamentos.

Entre as cargas transportadas estavam sete experimentos brasileiros e um indiano. Destacam-se dois nanossatélites desenvolvidos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), voltados ao estudo de sistemas de comunicação de baixo consumo energético para aplicações de Internet das Coisas (IoT), além de um satélite educacional com testes de placas solares, instrumentos de navegação e mensagens de alunos da rede pública, incluindo estudantes de comunidades quilombolas.

O lançamento ocorre duas décadas após o acidente de 2003, quando a explosão do foguete brasileiro VLS-1, ainda na plataforma, matou 21 técnicos e engenheiros em Alcântara — episódio que marcou profundamente o programa espacial nacional. Desde então, o Brasil tem buscado retomar e fortalecer sua atuação no setor, com a atualização recente de políticas como o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) e o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), ambos com aumento de investimentos.

Apesar do insucesso, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Marco Antônio Chamon, já afirmou que missões experimentais como essa são parte do processo de amadurecimento tecnológico do país e representam avanços importantes, mesmo quando não atingem todos os objetivos previstos.

Na carta aos acionistas, Soo-jong agradeceu o apoio recebido e pediu a continuidade da parceria. “Lamentamos profundamente não termos alcançado o resultado esperado neste primeiro lançamento comercial. O desenvolvimento de veículos lançadores envolve tecnologias de alta complexidade, e essa experiência será essencial para a evolução dos próximos projetos”, concluiu.