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Neste ano, a revista literária anual dedicada à publicação de novos contos de fadas Fairy Tale Review completa 20 anos. Em comemoração às duas décadas de atividades, o ano de 2025 teve uma publicação dupla — edições 20 e 21, Arsenic e Old Lace (as edições têm nomes de cores). Na publicação de número 21, figura um conto da escritora goiana Flavia Stefani, intitulado Death Kindly Stops for me.

Fundada em 2005 por Kate Bernheimer, a publicação anual tem como proposta ajudar a conscientizar o público sobre os contos de fadas como uma forma de arte diversificada e inovadora. Obras da Fairy Tale Review foram selecionadas para inclusão na The O. Henry Prize Stories Anthology, Best New American Voices, Best American Fantasy, Best Small Fictions e listadas como “Notáveis” em Best American Short Stories e Best American Fiction and Fantasy, entre outras honrarias.

O resultado é uma coletânea de poemas, contos, narrativas de todos os gêneros com sabor muito singular. O conto de fadas, por si só, tem a excentricidade como característica. Trata-se da peculiaridade das criaturas fantásticas, da personalização de objetos e elementos da natureza, do atribuir de intenções ao caos do mundo. O efeito é multiplicado com a pluralidade de visões — esta edição tem 20 autores de diversas nacionalidades. 

Por exemplo: no tríptico de Jenne Hsien Patrick, a autora faz uma releitura do mito chinês do Pássaro de Jingwei, de forma contemporânea e inventiva, infundindo no subtexto preocupações modernas como a libertação feminina, enriquecendo a referência histórica. Já Flavia Stefani cria suspense em poucas páginas ao tornar a morte um personagem de realismo mágico; faz ainda a narrativa ressoar o tema com prosa eficiente — a morte é densamente referenciada em simbolismo memento mori

Os livros, enfim, são cheios de fantasia e capricho — cheios de um espírito que a fundadora Kate Bernheimer chama de ‘veneno’. Na introdução desta edição de número 21, ela escreve: “Em 2005, uma revista literária dedicada a contos de fadas não era cool nem estava na moda. Publicações de prestígio não costumavam editar contos de fadas, exceto como derivações do País das Maravilhas; ah, claro, às vezes apresentavam um poema baseado em um mito; havia poetas que representavam séculos de histórias para os leitores; mas, especialmente na ficção, havia no ar um pedido de desculpas editorial pelo pouco de veneno de conto de fadas adicionado ao vinho da realidade do leitor. ‘Não acontecerá com frequência’, anunciavam essas raras ocasiões! 

“Mas por que se desculpar? Eu adoro o veneno de contos de fadas! Adoro o elixir deles. Eu via contos de fadas em todos os lugares, mesmo quando eram convidados sem saber, como fantasmas. […] Comecei a Fairy Tale Review pensando nos contos de fadas e naqueles que amam lê-los, e para mostrar aos críticos como são essenciais em todas as tradições literárias. Clássicos, contemporâneos e futuristas, os contos de fadas são a chama da inspiração. Seu desejo de contar ainda não se extinguiu.”